História da música Pantanal de Marcus Viana

Pantanal de Marcus Viana, a canção homônima da novela que retrata este bioma brasileiro, e lançada junto à trama original, exibida pela extinta TV Manchete, em 1990, e composta pelo cantor, compositor e multi-instrumentista mineiro Marcus Viana, sem dúvida alguma marcou bastante, não apenas para a região pantaneira, mas também para telespectadores da novela, que viram na letra e nos arranjos de Viana algo bastante representativo para a região do Pantanal.

A canção foi tão representativa que, mais de 30 anos depois, a TV Globo estreia, nesta segunda-feira (28), o remake de Pantanal, e, apesar de tentar outra canção para a abertura, para uma modernização da trilha, após apelos populares e um consenso dentro da emissora, chegou-se à conclusão de que o tema deveria ser mesmo aquele cunhado por Marcus Viana lá em 1990.

O autor da canção, bem como intérprete daquela versão, junto à sua banda Sagrado Coração da Terra, Marcus Viana, falou, ao Versos e Prosas, sobre sua alegria de ver a música, mais uma vez, ser a escolhida, agora para o remake de Pantanal. Ele disse sentir um orgulho danado de acompanhar sua obra ultrapassando gerações e ainda marcando forte, tanto para o cancioneiro brasileiro, quanto no coração de muitos, que acompanharam a novela na época, escrita por Benedito Ruy Barbosa e que, agora, tem em Bruno Luperi, seu neto, o atual escritor da trama.

A parceria entre Marcus Viana e Jayme Monjardim

A direção da trama escrita por Benedito Ruy Barbosa e exibida pela extinta TV Manchete, em 1990, ficou a cargo de Jayme Monjardim. A parceria entre o diretor paulista e o cantor e compositor mineiro, que se iniciou justamente com Pantanal, onde Marcus Viana, além do autor e intérprete da trilha de abertura, também montou toda a trilha incidental da novela cuja protagonista era Juma Marruá (Cristiana Oliveira), se estendeu por cerca de 15 anos, entre produções na TV Manchete e, posteriormente, na TV Globo.

Após Pantanal, Monjardim e Viana trabalharam juntos em novelas como A História de Ana Raio e Zé Trovão, também exibida na Manchete, entre os anos de 1990 e 1991. Na sequência, Jayme Monjardim foi para a Globo e, por lá, dirigiu novelas, contando com a parceria inseparável de Marcus Viana, em Chiquinha Gonzaga (1999), Terra Nostra (1999), Aquarela do Brasil (2000), O Clone (2001), A Casa das Sete Mulheres (2003) e América (2005).

Marcus Viana conta que descobriu o tema de abertura de forma bastante inusitada

Neste ponto, vale um destaque: apesar de ser o criador da trilha incidental de Pantanal, aquela música de fundo, que cria um ambiente para determinada cena, Marcus Viana não era o responsável pela trilha sonora em si de Pantanal.

Neste contexto, os produtores da novela original procuravam, a todo custo, um tema marcante para a abertura, mas não o encontravam. Acompanhando toda esta situação, Marcus Viana resolveu arriscar e enviar um tema para a produção da trama, como ele relata ao Versos e Prosas:

“na época de Pantanal, eu estou vendo eles procurando abertura, e não conseguiam achar. Qual vai ser? Ninguém sabia o que ia achar. Eu falei assim: ‘Uai, eu vou tentar fazer uma também’. Eles não estavam gostando de uma música, botavam outra, não gostavam, o que vai ser? Eles não sabiam. Eu falei: ‘eu vou tentar fazer uma’”, iniciou o artista mineiro, que prosseguiu, falando de como conseguiu emplacar o tema de abertura de Pantanal, homônimo à novela de Benedito Ruy Barbosa.

“Aí, eu fiz uma. Fiz lá, fiz essa música (Pantanal). Vocês me perguntam como eu fiz? Eu não sei gente, eu não lembro. Eu comecei a criar, a criação é assim, começa  a criar e aí, de repente, veio a letra e a música, e eu não me recordo do processo de criação. Só sei que elas vieram juntas. Eu não fiz uma música, para depois botar letra. Nunca é assim. Quando eu começo a criar uma música, geralmente eu começo a ouvir a letra e a música juntos”, detalha Marcus Viana.

O cantor admitiu que, apesar de traduzir como poucos a visão do Pantanal, fez a canção sem nunca ter pisado naquela região: “As cenas aéreas me lembravam capilares, como se fosse um grande corpo, a Terra era um grande corpo, e aqueles rios, aqueles afluentezinhos, que pareciam capilares, ‘as veias são como veias serpentes, os rios que trançam o coração do Brasil’. Então, saiu assim gente! Foi assistindo VHS para fazer a trilha e depois isso me inspirou um pouquinho na letra, claro tá na cara, né, que saiu um pouco desse contato. Mas, interessante gente, eu nunca fui ao Pantanal! Quando as pessoas ouvem isso, elas falam: ‘Sua música é a cara do Pantanal!’ Vocês veem o poder da criação espiritual, né, a gente não tem que estar em um lugar, para estar pegando a essência dele!”, acredita.

“A alma, o espírito, realmente rege a matéria. Você vê que, você tendo acesso à energia das coisas, você capta exatamente o que é a essência delas. No caso de Pantanal, eu, sem ter ido lá, fiz a música”, contextualiza.

Voltando à descoberta da canção na trilha de abertura de Pantanal, após enviar o material, o cantor e compositor disse que ninguém o procurou, dando retorno se sua canção havia ou não sido aprovada para a abertura da novela. Os dias se passaram e, então, ele mesmo decidiu ligar para saber qual canção, enfim, havia sido a escolhida, para o complexo tema de abertura da trama dirigida por Jayme Monjardim:

“Um dia eu liguei para a secretária do Jayme (Monjardim), perguntei: ‘Escuta, eu mandei uma trilha aí, para ver se o pessoal gostava para a abertura’. Ela falou assim: ‘Qual delas é a sua? Já escolheram a abertura’. Eu falei: ‘Ah, é? E qual vai ser?’ ‘Uma aqui que toca, insuportável esse tema aqui, é uma que toca: oh, oh, oh, oh, oh’. E eu vi que a minha tinha sido a escolhida (risos). Eu ri muito disso! Foi assim que eu fiquei sabendo: ‘nossa, insuportável essa música, é um chiclete, não sai da orelha!’”, relata, aos risos, Marcus Viana. Confira outras histórias das músicas conosco.

Versão de Pantanal seria outra, segundo Marcus Viana

O cantor, compositor e multi-instrumentista mineiro Marcus Viana ainda relatou que a versão que ele havia pensado para o tema de abertura de Pantanal seria outra.

De acordo com o artista, ele havia enviado um demonstrativo, uma versão inicial que os artistas enviam para gravadoras, produtores, enfim. Na cabeça de Marcus Viana, a versão que deveria ir para Pantanal seria outra, com um coral e interpretada por outro artista:

“Agora, eu vou fazer a boa, tá?’ Aí, eu fiz com um coral, era para o Milton Nascimento cantar, olha, a base é essa, vou chamar o Milton. Aí, eles olharam assim… Aí, quando eu mandei a boa, o Jayme falou: ‘Não, essa aqui não tem alma. A outra é que tem’. Eu falei: “Poxa, mas a outra eu tinha produzido em oito canais, tinha sido em condições menos perfeitas, foi feito pros coco, assim, tecnicamente’. ‘É, mas é aquela que foi feita pros cocos, segundo você, é a que tem alma!’. Pronto! Se ferrou! Ficou no ar e foi e fez esse sucesso todo! Aquela abertura, feita em oito canais, que eu cantei, porque não era para ficar na minha voz, era para ser o Milton Nascimento”, disseca o artista.

Música Pantanal ultrapassa gerações

Após se dizer assustado e até mesmo um pouco chateado pela produção de Pantanal não ter escolhido a canção idealizada por ele, aquela a qual Milton Nascimento gravaria, Marcus Viana se disse realizado de poder ter feito parte da abertura de uma novela que marcou bastante, para tantos brasileiros:

“No início, eu assustei, mas sabe, aquele assustado, mas feliz também, pô, que legal, gostaram do que eu fiz de cara. E eu ganhei a abertura, que é bem diferente de fazer a trilha incidental”, destacou Viana.

Ele aproveitou para chamar a atenção para outro detalhe: o fato de a canção, composta por ele para a novela exibida em 1990, ainda se manter forte e ultrapassando gerações. Segundo Marcus Viana, a letra e a melodia foram tão marcantes que, apesar de a TV Globo tentar alterar a trilha de abertura, a produção chegou a um consenso de que não seria possível e que nenhuma outra canção representaria tão bem o Pantanal como a obra de Marcus Viana.

“Você vê, agora, nessa novela nova, eu não estou fazendo a trilha incidental, e me abertura está lá. Você entendeu a diferença? É outra equipe que está produzindo, e a música continua lá”, ressalta, orgulhoso, Marcus Viana.

O artista mineiro fez questão de ressaltar a força do tema composto por ele e que ultrapassa gerações: “falar mesmo assim, da alegria que eu estou, de verificar a força de um tema, de uma música que cruza o tempo. Essa música minha cruzou 30 anos, a Globo tentou não usar, tentou fazer outra e não conseguiram. Então, vocês imaginem a força de uma música, pois não conseguiram desmembrar a novela desse tema. Foi a pedido do povo também, o povo pediu, mas também foi um consenso geral lá dentro da Globo, de que essa música era necessária dentro da novela. Isso me fez muito orgulhoso!”, vibra.

“E uma vez mais prova a força, a força que uma música tem de quebrar a barreira do tempo e englobar três gerações, três gerações. Hoje, os netos já estão ouvindo o que os avós ouviram. Como está na letra, ‘os filhos dos filhos dos filhos, dos nossos filhos verão’. Então, a própria música já está fazendo isso”, finaliza Marcus Viana.

Vale lembrar que a versão de Pantanal, a musica composta por Marcus Viana, para o remake da TV Globo, dirigido por Rogério Gomes, que estreia nesta segunda-feira (28), foi interpretado por Maria Bethânia, com toques da viola caipira de Almir Sater.

Após conhecer os bastidores de Pantanal, clássica trilha de abertura da novela homônima, composta pelo cantor, compositor e multi-instrumentista mineiro Marcus Viana, relembre, no player abaixo, toda a magia da canção que, em 2022, ganhou a releitura de Maria Bethânia.

Marcos Aurélio

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