Nando Reis critica quem pense que artista vive da Lei Rouanet
O cantor e compositor paulistano Nando Reis testou positivo para Covid-19, semana passada, e precisou adiar um show que faria no Rio de Janeiro. O artista comentou sobre a nova variante, a ômicron, bastante contagiosa, em entrevista concedida ao jornal O Globo. Ele aproveitou para falar de outros assuntos, como um disco que prepara com o cantor e compositor Marcos Valle e
As comemorações dos 40 anos dos Titãs, banda a qual integrou em seu início, e que deixou, para seguir carreira solo, em 2001.
“Por mais cuidado que se tome essa nova variante é muito contagiosa. Faz um mês que eu não consigo tocar com a formação completa da banda”, disse Nando, ao jornal O Globo.
O que o incomodava ali não eram nem tanto as incertezas dos tempos, mas a imagem que os artistas vieram ganhando no país por causa de uma combinação cruel de fake news com a pandemia. Nando bateu, fortemente, em quem pensa que os artistas vivem apenas da Lei Rouanet:
“Há essa baboseira caluniosa, maldosa, de que nós, artistas, vivemos na mamata da Lei Rouanet. Isso é um negócio doente! Eu trabalho! Subi ao palco com 16 anos, me profissionalizei com 19 com os Titãs, trabalho incessantemente e honestamente, dependo do suor do meu trabalho. Para todos nós, esses dois anos foram barra pesada, ficamos parados”, desabafou o cantor e compositor. Confira outras notícias conosco.
Autor de canções que trouxeram um pouco de alento para o público durante a quarentena (como “Pra você guardei o amor”, “Só posso dizer”, “All star” e o “Quando espero a primavera”, composta no começo da pandemia), o músico de 59 anos promete fazer de “Nando Hits” também a comemoração dos 20 anos desde que deixou os Titãs com a missão de se dedicar inteiramente a uma carreira solo que já contava então com dois álbuns e algumas composições gravadas por Marisa Monte, Cássia Eller, além da banda Cidade Negra.
Ainda este ano, Nando Reis promove o relançamento em LP, remixado, do seu segundo álbum solo, “Para quando o arco íris encontrar o pote de ouro” (de 2000, que trouxe “All star” e “Relicário”, canções que passaram batidas até Cássia Eller cantá-las).
“Quando fui tentar fazer o show desse disco, percebi que eu era um artista desconhecido do público. E constatei que não bastava ser um titã, ou ser um compositor, que aquilo exigiria de mim uma dedicação absoluta que eu só pude dar dois anos depois”, revelou. “O grande fenômeno, fatídico, foi a morte da Cássia [no fim de 2001]. Como ela era e permanece sendo a cantora que mais gravou músicas minhas, evidentemente os olhos se voltaram para mim”, disse Nando, ao jornal O Globo.
Nando Reis e os 40 anos dos Titãs
Nando Reis disse que, por enquanto, não considerava participar da turnê com a qual os Titãs remanescentes festejarão os 40 anos da banda.
“A gente conversou. Eles tinham uma ideia, eu tinha outra. Eu fiquei 20 anos só, eles que estão há 40 sabem como é que vão comemorar. Temos ali discos preciosos, que são ‘Cabeça dinossauro’, ‘Jesus não tem dentes no país dos banguelas’, ‘Go back’, ‘Õ blesq blom’ e ‘Tudo ao mesmo tempo agora’. Se um dia viermos a falar em tocar esse material, é claro que eu vou adorar. Mas os 40 anos compreendem muito mais coisa, da qual eu não participei”, afirma o ex-titã Nando Reis.
Com singles recentes lançados com nomes tão diversos quanto Péricles, Projota, Duda Beat e Anavitória, Nando pensa para a frente: acabou de compor uma canção com Gabi, do grupo Melim (“ela me mandou duas melodias muito surpreendentes que me levaram a escrever uma coisa por outro caminho”) e dez músicas com Marcos Valle.
“Eu procurei o Marcos, fizemos uma música, deu super certo e fomos fazendo. Ele é uma máquina, compõe uma música por dia… e também me puxou para um lado completamente diferente. Estamos aí vendo como gravar isso”, relatou.
No início da contagem regressiva para os 60 anos, que completa em menos janeiro do ano que vem, (“vou me tornar um idoso!”, festeja), Nando Reis avaliou a vida que teve – e a que tem pela frente.
“Nos 40 anos, você ainda acha que tem a energia e a vitalidade da juventude. Mas eu me sinto muito melhor com 59, porque mudei minha vida completamente. Não bebo, não cheiro e não faço mais nada já há cinco anos. E isso me dá condições físicas nas quais eu me sinto bem-disposto. Corri muitos riscos, inclusive o de sobreviver a essa pandemia. E adoro ser avô!”, disse ele, que tem cinco filhos e três netos. “Quando olho para trás, penso em como foi bom ter feito o que fiz e não ter que fazer de novo! Tudo isso agora é o meu patrimônio, o meu ganha-pão”, diz.
Cada vez mais, Nando Reis tem passado tempo no campo.
“Estou muito desencantado com os rumos que as coisas vão tomando, especialmente no rumo da destruição do meio-ambiente”, reclamou. “Tenho uma casa no interior de São Paulo, que era de uma fazenda do meu avô [em Jaú]. E tem um pouco de terra ali onde eu estou recuperando a mata ciliar, fazendo uma agrofloresta e cultivando abelhas sem ferrão. É uma gota no oceano, mas é o que está ao meu alcance”, finaliza Nando Reis, em entrevista concedida ao jornal O Globo.