Lô Borges fala de Não Me Espere na Estação, shows e lançamentos

O cantor e compositor mineiro Lô Borges, um dos líderes do Clube da Esquina, ao lado de Milton Nascimento, acaba de lançar seu mais novo álbum de inéditas, Não Me Espere na Estação.

Este é o quinto disco disponibilizado pelo artista em cinco anos consecutivos.

Lô Borges falou, ao Versos e Prosas, sobre o processo de composição do álbum, a parceria com o letrista César Maurício, seu processo de composição e a escolha pelo parceiro ideal para a composição, ao seu lado, de cada disco. Confira!

Não Me Espere na Estação: a composição das músicas

Não Me Espere na Estação, o quinto álbum de inéditas de Lô Borges lançado em cinco anos, foi disponibilizado ao público no dia 20 de janeiro.

Contendo dez músicas, uma marca dos últimos álbuns de Lô, nove delas foram feitas em parceria com o músico César Maurício, que escreveu as letras, nas melodias compostas pelo próprio Lô.

O artista mineiro explica mais sobre o processo de composição do disco:

“Esse álbum que estou lançando, o Não Me Espere na Estação, eu comecei a compor dentro de uma coisa que eu já vinha fazendo nos últimos cinco anos. Ele é meu quinto disco de inéditas, em cinco anos consecutivos. Cada disco meu tem um portal que se abre, que é o tipo de instrumento que eu escolho para começar a compor. No caso desse disco que eu estou lançando, foi a guitarra. Há muito tempo que eu não compunha na guitarra e aí, sempre no mesmo processo, na minha casa, eu sou um cara muito dedicado à composição, para mim, a prioridade da minha vida profissional, é a composição e eu comecei a compor no mês de maio”, iniciou Lô, que contou porque escolheu César Maurício para letrar suas composições.

“Eu comecei a compor uma, depois que eu fiz uma, eu falei: O disco de guitarras que eu vou fazer agora, eu queria convidar o César Maurício, que é um cara de uma banda importante aqui de Belo Horizonte, do final dos anos 80, o Virna Lisi, que é ligado ao punk rock, e esse cara foi meu parceiro, no disco Um Dia e Meio, de 2003, e no disco ‘BHANDA’, de 2009, a gente sempre teve uma relação muito perto. E, cada disco que eu faço, quando ainda estou na primeira música, eu já penso em um parceiro, que poderia escrever as letras. E aí, foi um processo normal: eu fui compondo, gravando a minha guitarra base no estúdio, com os músicos, o mesmo trio que estou trabalhando nestes cinco álbuns mais recentes: Henrique Matheus (guitarra), Thiago Corrêa (contrabaixo, teclado e percussão) e Robinson Matos (bateria). Então, eu gravei primeiro todas as minhas guitarras, e a minha voz-guia, o letrista ainda não tinha o material com ele. Aí, depois que eu gravei tudo, comecei a mandar para o letrista, César Maurício, que foi fazendo as letras. É um processo que eu estou super acostumado a fazer, porque eu sou um cara que gosta para caramba de compor, é uma coisa que eu nunca abandonei na minha carreira”, detalha Lô Borges, sobre o processo de composição do álbum.

E o nome Não Me Espere na Estação?

O artista ainda falou, ao Versos e Prosas, sobre a escolha do nome do seu mais recente disco de inéditas: Não Me Espere na Estação.

“Cada disco que eu faço, eu escolho o título do disco como parceiro que está escrevendo as letras. Eu e o César Maurício ficamos em dúvida de qual seria o nome, a gente tinha três, quatro opções, mas eu achei que a gente não estava muito afim de batizar o disco. Aí, tem um amigo meu, de São Paulo, músico, e eu mandei o disco para ele, que disse: ‘Esse disco que você fez é completamente diferente do anterior, que é completamente diferente do anterior, e assim vai (risos). Seus discos são diversificados, são diferentes’. Aí, ele falou comigo: ‘Você está tipo: não me espere na estação, porque quando a gente está esperando que você vai fazer uma coisa, você faz outra’. Então, eu falei: ‘Eu gostei disso que você falou: não me espere na estação’. Foi muito casual que esse título surgiu. O trem que eu estou, não para nunca!”, diz o inquieto Lô.

Lô Borges: um compositor contumaz

O cantor e compositor mineiro se define como “um compositor compulsivo”. Lô Borges comenta conosco sobre seu processo de composição, assim como suas técnicas para compor tanto, em tão pouco tempo. Ele se recorda do início de carreira, há mais de 50 anos:

“Eu tenho uma facilidade e uma agilidade para compor que eu aprendi lá atrás, em 1972, no Disco do Tênis, que saiu no mesmo ano do Clube da Esquina, que eu sou coautor, ao lado do Milton Nascimento. E o Disco do Tênis foi um disco que eu não tive tempo para compor, então, eu fazia a música de manhã, o meu irmão fazia a letra à tarde, e à noite, a gente ia para o estúdio gravando, valendo para todo o sempre!”, começa Lô, que continua descrevendo seu processo de composição. Confira outras notícias conosco.

“Na época, foi meio sufocante para mim, fazer esse Disco do Tênis. 40 anos depois que eu fui lançar esse disco, que ele teve uma repercussão, que eu fiz a turnê do Disco do Tênis, mas eu costumo dizer que esse Disco do Tênis que me ensinou, que me deu agilidade para compor, com facilidade. Então, normalmente, eu levo 40 minutos para fazer uma canção. Nesses últimos cinco discos que eu fiz, as composições foram todas, meia hora, 40 minutos. Eu gosto de compor de manhã. Eu sou um cara do dia, gosto de beber água limpa! Então, eu compus todas na parte da manhã, e fui fazendo. Para você ter ideia, em um mês, eu já tinha as dez. Então, essa agilidade que eu tenho para compor, é uma coisa que eu tenho desde que comecei minha carreira, e que perdura até hoje. Eu, com 71 anos, componho como se estivesse começando a minha carreira, sempre!”, destaca Lô Borges.

O critério para a escolha dos letristas

Lô Borges ainda comentou, com o Versos e Prosas, como ele faz para definir cada letrista que será seu parceiro, em um futuro álbum a ser produzido:

“Eu já penso no parceiro quando eu componho a primeira música. Desde 2019, que eu fiz o disco com o Nelson Angelo, 2020, eu fiz com o Makely Ka, todas são assim: eu faço as músicas e eles fazem as letras. Quando vem a primeira música, a segunda, eu já visualizo quem poderia escrever para aquele álbum. Então, eu acho que eu tenho acertado nas minhas escolhas. Por exemplo, o Não Me Espere na Estação, é na guitarra, o César Maurício é ligado a essa estética das guitarras, tinha banda de punk rock, eu falei: ‘Poxa, o César Maurício é o cara indicado para escrever para esse disco’. Eu fiz um disco, ano passado, o Chama Viva, na primeira música, eu escolhi minha amiga, escritora, compositora paulista Patrícia Maês. Eu acho que eu tenho sido feliz nas minhas escolhas”, acredita ele, que complementa, citando a sincronia que há entre ele e seus parceiros letristas.

“Antes, eu fazia os meus discos com parceiros diversos, e agora eu estou no meu quinto disco, com um parceiro só, o disco inteiro. Essa escolha é muito importante, mas ela é muito intuitiva. E eu acho que tenho acertado, porque as letras que eu tenho recebido dos meus parceiros, nesses trabalhos recentes, são letras que chegam irretocáveis, eu não tenho que mexer em uma sílaba, em uma palavra, está tudo sintonizado. É uma sintonia que eu tenho, eu acho que, na hora da minha escolha, é como se fosse uma composição também. Assim como a composição é intuitiva, a escolha do parceiro também é intuitiva. Quando eu faço a primeira ou a segunda música, eu já penso logo no parceiro e já comunico a ele que vou mandar o material de dez músicas para ele, para esse parceiro escrever para mim”, explica Lô.

O processo de composição dos próximos trabalhos

Ao comentar sobre o formato de composição para seus discos, Lô Borges responde se vai seguir compondo um disco inteiro com apenas um parceiro ou se haverá diversificação neste processo:

“Eu não sei até quando vai durar isso. Em meus álbuns anteriores, desde o início da minha carreira, sempre foram parceiros diversificados, em cada álbum. No Clube da Esquina, eu fiz Tudo o que Você Podia Ser, com o Márcio Borges, fiz Trem Azul, com Ronaldo Bastos, fiz Paisagem da Janela, com Fernando Brant, fiz Um Girassol da Cor do Seu Cabelo, com o Márcio Borges, fiz Trem de Doido, com o Márcio Borges. Então, eu já diversifiquei parceiros nos meus trabalhos, mas a minha tendência atual é estar escolhendo sempre um só parceiro para fazer todas as letras, daquele determinado álbum, que eu acho que traz a unidade no disco, as canções ficam, a pessoa se solta, como eu me solto como compositor, as pessoas têm a oportunidade de se soltar, em dez músicas”, diz.

A expectativa para os shows e a defesa das canções históricas

Quando falou sobre a expectativa para o show de lançamento de Não Me Espere na Estação, que ocorrerá em março, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG), Lô Borges aproveitou para lembrar que haverá uma turnê de lançamento do álbum, Brasil afora. Ele ainda destacou que, além das principais canções do mais recente trabalho, o público pode esperar ouvir grandes clássicos da carreira, o que, aliás, Lô diz fazer questão de seguir cantando, sem qualquer tipo de reclamação:

“Eu sou um artista que gosta de tocar o que o público quer ouvir. Então, eu não me furto a tocar aquelas canções que eu sei que o público se identifica já há muitos e muitos anos, tipo as músicas do Clube da Esquina, as músicas do Disco do Tênis, as músicas do Via Láctea, as músicas do Nuvem Cigana, ou seja, as músicas da década de 70, 80, eu sempre incluo nos meus shows. As músicas do Clube da Esquina então, se eu não tocar, eu fico mal na foto! Agora, detalhe: eu toco sem nenhum problema, assim: ‘Ah, vou ter que tocar O Trem Azul mais uma vez!, vou ter que tocar O Girassol (da Cor do Seu Cabelo) mais uma vez!’. Não tem essa, eu toco como se eu tivesse composto as músicas dos anos 70, como se eu tivesse feito elas há um mês! Então, ela ainda tem um frescor! Eu não frustro o público no que ele quer ouvir. Não só ele quer ouvir, como eu e minha banda gostamos de tocar as música do início da minha carreira. A gente não abre mão de tocar essas músicas, assim como o público não abre mão de ouvir essas músicas e de cantar juntos nos shows!”, destaca.

Confira o álbum “Não Me Espere na Estação”, o quinto disco de inéditas em cinco anos, de Lô Borges, editado pela gravadora Deckdisc.

Marcos Aurélio

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