Single Mina, de Cazuza, é lançado 31 anos depois de sua morte
O single Mina, gravado por Cazuza em 1987, e que não entrou em seu disco daquela época, foi disponibilizado agora, em todas as plataformas digitais de streaming. A canção já pode ser ouvida desde esta sexta-feira (9).
O single Mina é uma parceria entre o eterno exagerado, o cantor e compositor George Israel e o baixista, e compositor Nilo Romero.
O single Mina foi gravado originalmente em 1987, para o álbum Só Se For a Dois, mas acabou ficando de fora da obra de Cazuza.
Acompanhe, com o Versos e Prosas, todos os detalhes do lançamento do single Mina, de Cazuza, anunciado pela Universal Music, no dia em que se completou 31 anos de sua partida.
O contexto de criação do single Mina
“Mina, como vai? Como você cresceu!”. Esta parece apenas mais uma fala banal, dessas que voam aos montes por aí. Nas mãos de Cazuza, no entanto, a fala vira verso inicial, um estopim para o retrato de uma jovem independente, de olhos famintos (“dois aquários de morfina”), que “se vira na rua sozinha, com coragem e comprimidos”.
Um retrato ainda mais fascinante por sair da voz de um narrador perplexo, que tenta aceitar que sua garotinha não é mais uma garotinha (agora, intranquilo, ele diz à menina que ela é “íntima de uns caras que eu te escondia”). Uma personagem do Rio da década de 1980 que circula com desenvoltura em pleno 2021.
O single Mina sai do baú de Cazuza e ganha as ruas mais de 30 anos depois de o compositor registrá-la em estúdio — um registro de sua voz que ouvimos agora, pela primeira vez, no single lançado pela Universal Music, com clipe animado por Humberto Barros.
O single Mina é uma parceria do letrista, o eterno exagerado, com George Israel e Nilo Romero (trio que assina clássicos como Brasil (1988) e Solidão, Que Nada (1987)). Brasil, vale o destaque, que explodiu na voz de Gal Costa, como tema de abertura da novela Vale Tudo, exibida pela Rede Globo, em 1988.
Os bastidores do single Mina
O single Mina entraria no disco Só Se For a 2, álbum lançado por Cazuza em 1987, mas acabou ficando de fora.
Um dos compositores do single Mina, Nilo Romero conta mais sobre os bastidores de sua criação. “Eu e George tínhamos uma mesinha de quatro canais, que gravava em fita cassete, e vivíamos fazendo músicas, gravando ali e dando as fitas pro Cazuza”, lembra Nilo. “Ele era uma usina de fazer letra.
Quando ele ouvia já cantava alguma coisa na hora, levava a fita e no dia seguinte trazia a letra pronta. Podia mexer depois, mas nunca sofria pra fazer, era muito solto”, detalha o compositor.
Observador agudo, olhar de cronista, Cazuza sempre se inspirava no que via e vivia. “Mina” condensa meninas que circulavam pelo Baixo Leblon e, Nilo conta, bebe de uma situação específica que eles vivenciaram depois de um show em Araxá, região do Auto Paranaíba de Minas Gerais.
“Saímos pra comer uma pizza e a determinada altura apareceu um cara querendo mandar numa das meninas que estava ali. ‘Esse aí me viu crescer e acha que é meu dono’, ela disse. Lá pelas tantas, o cara pegou uma faca, Cazuza defendeu todo mundo, jogou uma mesa nele, o segurança chegou… Um tempo depois, veio ‘Mina’”, conta Nilo Romero.
Um olhar profundo sobre o social
George Israel vê no single Mina a marca de originalidade que Cazuza (e sua geração do Rock Brasil) trouxe para a música brasileira, de crônicas da noite “ácidas, viscerais”.
Tem algo da crônica do Jagger, do Dylan, do Lou Reed… Ele ia mais nessa de desnudar as pessoas, na linha ‘Honky tonk women’, essas coisas da night. Mesmo em canções lindas como ‘Codinome beija-flor’ tem um tracinho disso. O mais legal é que ele conseguiu fazer isso de uma maneira muito popular. Dentro do hit tem toda a profundidade social da observação das pessoas”, detalha George Israel.
No caso do single Mina, as pessoas observadas são a personagem-título, que exerce sua liberdade sem amarras, e o narrador que se esforça pra “não ser aquele cara chato” — mas não consegue evitar julgá-la (“esses caras do teu lado não ‘tão com nada”).
É curioso que, numa leitura da época, a canção poderia soar machista, por trazer o olhar dele sobre ela — olhar que, com indisfarçável moralismo, a descreve como inconsequente, louca demais. Porém, para o ouvinte (e a ouvinte) do século XXI, é difícil não perceber o sujeito como um pai, tio ou amigo careta, e se identificar com a menina, hoje diríamos, empoderada (“na barra pesada, como uma rainha”).
O single Mina e a produção do clipe
No single Mina, Cazuza já dava as chaves para a leitura quando, logo depois de o narrador dizer que não quer “ser aquele cara chato”, o coro responde com um “E é” — que soa espertamente como “yeah”.
O clipe de animação (dirigido por Humberto Barros e Nilo Romero) traça em linhas mais fortes essa perspectiva atual, mostrando o narrador como um coroa de bengala que acaba sozinho na noite do Rio, enquanto ela aparece se relacionando com homens e com mulheres, cercada de amigos, o tempo todo alegre e dona de si.
O single Mina e outras regravações
O single Mina chegou a ser lançado por Leo Jaime, em 1990, e o próprio George Israel, um de seus compositores, a gravou em 2007. Mas o registro de Cazuza se mantinha inédito até agora, quando chega às ruas com um arranjo refeito por Nilo Romero. Ele chamou Rogério Meanda (guitarra) e João Rebouças (teclados) — músicos que, como ele, participaram da gravação original. Lourenço Monteiro (bateria) e Marcos Suzano (percussão) reforçam o time. O coro de Solange Rosa, Eveline Hecker e Paulinho Soledade é o mesmo de 1987, assim como o frescor dos versos de Cazuza.
“Esses personagens continuam existindo”, nota George. “Talvez apenas com outras roupas”, finaliza George Israel.
E aí? Quer curtir o single Mina, esta gravação inédita de Cazuza, disponibilizada 31 anos depois de sua morte? É só escolher sua plataforma de streaming favorita! Agora, para assistir ao clipe do single Mina, que estará disponível a partir das 17h desta sexta-feira (9), é só acessar o canal dedicado a Cazuza no Youtube.