Patrícia Ahmaral canta Torcuato Neto, em álbum que celebra obra do parceiro de Caetano e Gil

Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto, em álbum que celebra a obra musical do poeta e compositor piauiense, grande parceiro de Caetano Veloso e Gilberto Gil, no auge do movimento da Tropicália.

O volume 1 do projeto, Um Poeta Desfolha A Bandeira, já está disponível nos aplicativos de áudio, desde quinta-feira (10), data em que se completa 50 anos da morte de Torquato, com apenas 28 anos.

O projeto em que Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto tem as participações especiais de nomes como Jards Macalé, Chico César, Banda de Pau e Corda, Mauricio Pereira e Ricardo Vignini e Zé Helder, do Moda de Rock.

Confira os detalhes do álbum em que Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto, a seguir, com o Versos e Prosas.

Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto e traz convidados especiais

Os fãs do poeta piauiense Torquato Neto (1944-1972), cujo cinquentenário de morte se deu no dia 10 de novembro de 2022, poderão conferir, a partir desta data, um tributo inédito. A cantora mineira Patrícia Ahmaral lança nas plataformas digitais Um Poeta Desfolha A Bandeira, volume 1 do álbum duplo Patrícia Ahmaral Canta Torquato Neto. É o primeiro de uma intérprete no país dedicado às parcerias do artista, que incluem composições com nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo, Chico César, Rogério Skylab, entre outros.

Personagem singular na cena cultural brasileira e um dos principais mentores do tropicalismo, Torquato cometeu suicídio aos 28 anos de idade, deixando um legado marcante, em poesia, jornalismo, cinema e música.

George Mendes, curador do Acervo Torquato Neto (Teresina -PI), celebra e observa não ter havido ainda uma regravação do letrista “em bloco”: Faltava (…) Uma grande intérprete para grandes canções, recriadas no verniz do tempo (….) Pois aparece no meu radar uma certa cantora mineira, revelando uma enorme sensibilidade para a poética de Torquato Neto”, destaca.

Com direção artística do compositor Zeca Baleiro, a largada para a divulgação do projeto aconteceu recentemente com um single duplo nas plataformas, trazendo participações de Jards Macalé e de Chico César. Agora é a vez do vol,1 completo. A direção musical do trabalho é assinada por Rogério Delayon (Belo Horizonte), Marion Lemonnier (Honfleur – FR) e Walter Costa (Petrópolis)

Patrícia Ahmaral comenta sobre as participações especiais no álbum:

“É um álbum aberto, com contribuições marcantes nas canções”, explica Patrícia. Jards Macalé cravou violão e dueto de voz com ela e releu seu próprio arranjo de 1972 para Let´s Play That (Macalé e Torquato Neto), no mesmo instrumento com o qual registrou a música, em seu primeiro LP.

Já a Banda de Pau e Corda, do Recife, gravou com ela em Louvação (Gilberto Gil e Torquato Neto), repaginando a canção num delicioso Côco De Arcoverde. Outros convidados são os paulistanos Maurício Pereira e Tonho Penhasco, em Mamãe Coragem (Caetano Veloso e Torquato Neto), o também paulistano Moda De Rock, dos violeiros Ricardo Vignini e Zé Hélder, em Marginália II (Gilberto Gil e Torquato Neto), além de Chico César, já citado, em Quero Viver (Chico César e Torquato Neto).

“Um Torquato não se faz só”, brinca a cantora. “Nesse trabalho ele está compartilhado, ‘esparramado’ em conexões, como imagino que gostaria!”, conclui.

A semente desta homenagem surgiu há mais de 20 anos, no espetáculo TorquaTotal, idealizado pelos poetas mineiros Ricardo Aleixo e Marcelo Dolabela (1957/2020) para a 1ª Bienal Internacional de Poesia de Belo Horizonte (1998): Patrícia recebeu e cumpriu a missão de pegar o ‘escorpião’ vivo, eletrificá-lo e destilar seus venenos em mais veneno, escreveu Dolabela. A mesma banda do show marca presença em duas faixas do álbum, com os arranjos da época…

Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto: dois volumes e um recorte temático

Este primeiro volume, Um Poeta Desfolha A Bandeira, traz nove músicas de períodos diferentes, incluindo o da Tropicália. São três composições do poeta com Gil, Geléia Geral, Marginália II e Louvação; duas com Caetano Veloso, Ai De Mim Copacabana e Mamãe Coragem; além de Três Da Madrugada (Carlos Pinto e Torquato Neto); Let´s Play That (Jards Macalé e Torquato Neto) e de duas parcerias póstumas, Quero Viver (Chico César e Torquato Neto) e Cogito (Rogério Skylab e Torquato).

No volume 2, A Coisa Mais Linda Que Existe, que sai em janeiro de 2023, Patrícia faz um recorte inusitado para a perspectiva normalmente trazida sobre Torquato Neto, cantando apenas canções com letras de amor do poeta, como a faixa homônima ao título, parceria com Gil e Um Dia Desses Eu Me Caso Com Você (Paulo Diniz e Torquato Neto).

Patrícia comenta, sobre a direção de Zeca Baleiro:

“Era importante contar com uma interlocução que compreendesse a dimensão de Torquato na história da cultura brasileira e suas conexões no presente. Além de compositor extraordinário, com um raro arrojo criativo, Zeca tem um faro para conectar pessoas e gestar as coisas. Foi um privilégio dos grandes”. Ela manteve também diálogos essenciais com os poetas Ricardo Aleixo e Marcelo Dolabela na construção subjetiva do projeto.

“Acho que o nome de Torquato, com seu espírito libertário, cai como uma luva no momento, em contraponto ao obscurantismo na sociedade”, afirma.

Brasileiro até o osso! Por Zeca Baleiro

Torquato Neto é pedra fundamental da poesia da canção brasileira moderna (e não só). Sua obra ´musical`, ainda que constantemente revisitada em coletâneas e tributos, vive dispersa por aí, atual e influente sempre, mas espalhada no vento tropical do Brasil, confundida com seu mito de gênio trágico.

Nunca dantes havia sido contemplada da forma apaixonada e exclusiva com que Patrícia Ahmaral agora o faz neste álbum duplo. Patrícia dividiu o repertório do poeta em um volume mais, digamos, existencial, e outro mais lírico/amoroso, embora em Torquato tudo se misture e se confunda. Na poesia de Torquato tudo é caos. Por isso também é explosão de beleza.

Como belo é este tributo feito com fervor devoto, delicado e furioso artesanato, brasileiro até o osso.

Senhoras e senhores, desfrutem com prazer deste ´Torquatotal´!

Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto: faixa a faixa

Por Patrícia Ahmaral

Confira, com o Versos e Prosas, um faixa a faixa do álbum em que Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto, feito pela própria artista mineira:

Faixa 1 – Marginália II (Gilberto Gil e Torquato Neto) – Em Dois Amigos, Um Século De Música (2015), de Gil e Caetano, fiquei tocada com a interpretação de Gil em Marginália II, ao violão, reflexiva, grave, contraponto ao registro original (1968), no arranjo do genial Rogério Duprat. Provocados pela nova leitura de Gil, pensando em caminhos, Zeca, que acabara de colaborar com o Moda de Rock (SP), dos violeiros Ricardo Vignini e Zé Helder, sugeriu convidá-los. Eles trouxeram um arranjo belíssimo e, ao final, achei extremamente simbólico vestir essa canção com a viola, esse instrumento do Brasil profundo em perspectiva urbana.

Faixas 2 e 7- Geléia Geral (Gilberto Gil e Torquato Neto) e Ai De Mim Copacabana (Caetano Veloso e Torquato Neto) – Gravamos as duas faixas com os músicos Celso Penni, Luis Patrício, Rogério Delayon e Thiago Corrêa. que apresentaram comigo, em 1998, o show TorquaTotal, idealizado pelos poetas Ricardo Aleixo e Marcelo Dolabella (1957-2020) para a 1ª Bienal Internacional de Poesia de Belo Horizonte (MG). São os mesmos arranjos, nascidos na espontaneidade das nossas cabeças muito jovens e sem medo da época! rsrs. As gravações originais de Gil e Caetano, ambas de 1968, exibem os espetaculares arranjos de Rogério Duprat.

Faixa 3 – Let´s Play That (Jards Macalé e Torquato Neto) – Mas você escolheu uma música muito doida pra gravar!, foi o que Macalé me disse logo que me viu no estúdio!! Pelo fato de a música, segundo ele, ser algo fora da curva, quebrada ritmicamente. Os versos são paródia de um trecho do Poema De Sete Faces, de Drummond, autor que Torquato admirava, bem no espírito libertário dos dois parceiros. Não poderia deixar de incluí-la no repertório. Foi o percussionista Naná Vasconcelos quem mostrou a letra de Torquato a Macalé, que a musicou e gravou em seu LP Jards Macalé (1972). Ele levou para a nossa gravação o mesmo violão com o qual fez o registro da música em 72 e criou novo arranjo para adequar ao tom de minha voz. Ao final, brincamos que ele fez uma leitura ´original´ de sua original! E a participação dele, enquanto amigo e parceiro de Torquato e por tudo o que Macalé representa na música brasileira tem, pra mim, uma dimensão e simbologia especiais dentro do projeto.

Faixa 4 – Três Da Madrugada (Carlos Pinto e Torquato Neto) – Zeca sugeriu a Marion Lemonnier e a Walter Costa, produtores musicais da faixa, que criassem uma ‘bossa noturna’ para o arranjo de Três Da Madrugada. Essa música foi lançada no ano seguinte à morte de Torquato, com interpretação antológica de Gal, no lado B de um compacto encartado n´ Os Últimos Dias De Paupéria (1973) – livro póstumo de Torquato, organizado por Waly Salomão e pela viúva do poeta, Ana Maria de Araújo. É uma canção extremamente bonita, embora doída, com versos cortantes que se expandem na melodia belíssima de Carlos Pinto, que também a registrou, em compacto de 1973.

Faixa 5 – Louvação (Gilberto Gil e Torquato Neto) – Foi quando ouvia sem parar Missão Do Cantador (2021), belíssimo retorno da Banda de Pau e Corda (Recife) aos estúdios, que os imaginei participando nessa faixa, que inicialmente não estava no repertório, vislumbrando que daria em algo muito especial. Comentei com Zeca Baleiro, que disse que seria sim uma versão emblemática Fiz o convite e Zé Freire, violão sete cordas e arranjador da Banda, propôs o Côco de Arcoverde para a base rítmica. Gravaram em Recife e eu coloquei minha voz depois. Achei tudo encantador. A voz de Sérgio Andrade, o arranjo com a marca da Banda, com todo o arrojo nordestino e a modernidade. Feliz por ajudar a resgatar essa canção ao lado desse grupo antológico

Faixa 6 – Mamãe Coragem (Caetano Veloso e Torquato Neto) – Eu já havia gravado essa canção em meu CD Superpoder (2011), mas não poderia deixá-la de fora num tributo. Fã e admiradora de Maurício Pereira (SP), o imaginei na música, com seu jeito muito particular de cantar. Que poderia provocar novos sentidos… Maurício convidou o genial Tonho Penhasco pra gravar um arranjo minimalista de guitarra e os efeitos de Rogério Delayon vieram depois. Maurício conta que quando criança, se impressionava com o verso mamãe…eu fui embora. Pra mim, adolescente, me impressionava eu posso eu quis eu fiz/ mamãe seja feliz. E cantamos, misturando as perspectivas. A incidental “Ó Deus Vos Salve Essa Casa Santa” (Caetano Veloso e Torquato Neto) é Torquato confrontando Torquato.

Faixa 8 – Quero Viver (Chico César e Torquato Neto) – Chico conta que compôs esta música numa oportunidade em que foi convidado para participar de show-homenagem a Torquato. Então, admirador, se sentiu motivado a compor algo sobre os versos do autor e depois acabou gravando a música no álbum Estado De Poesia (2015). A letra é absolutamente atual e é uma dádiva poder cantá-la ao lado do próprio Chico, que além de compositor gigante,de inspiração infinita, tem sido uma figura afirmativa na cena brasileira, com posicionamentos claros diante do racismo, homofobia, desigualdade, assim como o Torquato da letra fala… “queremos cuidar da vida/ já que a morte está parida/ um dia depois do outro/ numa casa enlouquecida/ digo de novo, quero dizer/ a morte não é vingança/ beija e balança/ e atrás dessa reticência/ queremos, quero viver”. É forte juntar Chico com Torquato!

Faixa 9 – Cogito (Rogério Skylab e Torquato Neto) – Canção com um dos poemas mais emblemáticos de Torquato e dos mais conhecidos. Regravei a bela versão de Rogério Skylab, que a registrou em seu álbum Melancolia e Carnaval (2014), com participação de Jards Macalé na faixa. George Mendes, curador do acervo de Torquato, conta que a decisão de liberar versões musicais do poema só ocorreu a partir da gravação de Macalé na música de Skylab. Junto com Quero Viver, Cogito coloca lado a lado, neste volume, o letrista, ainda vivo, e o Torquato poeta, transformado em canções, em parcerias póstumas.

PATRICIA AHMARAL

Confira o álbum Patrícia Ahmaral Canta Torquato Neto Vol. 1, “Um Poeta Desfolha A Bandeira”, em seu aplicativo de áudio. Confira o álbum, também, no canal do YouTube da cantora.

Marcos Aurélio

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