Álbum Noturno, de Maria Bethânia, transita entre o claro e a escuridão
O álbum Noturno, da rainha da MPB, Maria Bethânia, já está disponível em todas as plataformas digitais, desde a última sexta-feira (30). Além do streaming, o mais novo disco da cantora baiana também está disponível em formato físico e é distribuído pela gravadora Biscoito Fino.
O álbum Noturno, de Maria Bethânia, varia entre momentos de claridade e de escuridão, ficando entre a luz e o breu, demonstrando bem este momento em que vivemos: por um lado, uma pandemia a se enfrentar; por outro, segue a luta do brasileiro que não desiste nunca e continua firme, em busca de seus propósitos!
Acompanhe tudo sobre o álbum Noturno, de Maria Bethânia, na sequência, com o Versos e Prosas!
A trajetória de Maria Bethânia
Maria Bethânia, um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira, completou 75 anos no último dia 18 de junho. Bethânia é conhecida, não por acaso, como a Rainha (ou abelha-rainha) da MPB.
Com mais de 26 milhões de discos vendidos, ao longo de mais de 55 anos de carreira, Maria Bethânia (que não custa lembrar é irmã do também cantor e compositor Caetano Veloso), foi eleita, em 2012, pela revista Rolling Stone Brasil, como a quinta maior voz da música brasileira.
Dentre as músicas de sucesso, com a interpretação da voz inconfundível de Maria Bethânia, estão: Ronda, Negue, Olhos Nos Olhos, Grito de Alerta, Brincar de Viver, Explode Coração, As Canções Que Você Fez Pra Mim, Tatuagem, entre muitas outras.
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Álbum Noturno já teve dois singles lançados previamente
O álbum Noturno, de Maria Bethânia, conta com 12 faixas, sendo dez delas inéditas. Duas delas, A Flor Encarnada (Adriana Calcanhotto) e Lapa Santa (Paulo Dáfilin e Roque Ferreira) já foram disponibilizadas, em formato de singles, para fazer uma espécie de aquecimento do mais novo disco da artista baiana.
A Flor Encarnada, composição de Adriana Calcanhotto, foi lançada no dia 25 de junho. A letra da canção, bastante triste, é fielmente interpretada por Bethânia, acompanhada pelo piano do pernambucano Zé Manoel, músico que estreia na discografia da cantora baiana. Acompanhe mais detalhes sobre A Flor Encarnada (https://versoseprosas.com.br/a-flor-encarnada-bethania/532/).
Por sua vez, O single Lapa Santa (Paulo Dáfilin e Roque Ferreira) foi lançado no dia 16 de julho. A música fala de religiosidade, tema, aliás, muito caro à cantora baiana, sobretudo da praticada na região sertaneja cortada pelo Rio São Francisco, o Velho Chico.
Véio Chico, inclusive, era o título original da canção, cujo nome definitivo, Lapa santa, alude a Bom Jesus da Lapa, um município baiano banhado pelas águas desse rio que carrega tanto a fé do devoto povo nordestino, como as carrancas talhadas pelo artista Francisco Guarany (1884 – 1985). Saiba todos os detalhes deste single.
As demais faixas do novo disco
O álbum Noturno, de Maria Bethânia, conta com 12 faixas, sendo uma delas uma poesia.
Quando Maria Bethânia estava circulando pelo Brasil com o show Claros Breus, em 2019, a última música do roteiro, em dois atos, era Bar da Noite, dos compositores Bidu Reis e Haroldo Barbosa. “É uma canção muito forte para mim”, afirma a cantora baiana, de voz marcante e inconfundível.
A canção também faz uma espécie de conexão ou transição entre o show Claros Breus e o novo disco de Bethânia, o álbum Noturno, lançado nesta sexta-feira, 30, pela gravadora Biscoito Fino.
O álbum Noturno tem produção musical de Jorge Helder, direção musical e arranjos de Letieres Leite (maestro da Orkestra Rumpilezz) e está disponível tanto em formato físico, quanto nas plataformas digitais.
A música Bar da Noite (Bidu Reis e Haroldo Barbosa, 1953), abre os trabalhos do álbum Noturno, em uma interpretação intensa, que remete a sambas-canções e boleros dos anos 1950 e 1960, marcantes na noite carioca até a chegada da Bossa Nova. A própria Bar da Noite já havia sido gravada por Nora Ney no final da década de 1950. “Era uma canção que estava viva, encerrando Claros Breus”, afirma Bethânia.
Álbum Noturno: entre o claro e o breu
Embora o novo disco de Maria Bethânia destaque a noite no título, o seu percurso estético entremeia momentos mais noturnos e outros mais solares, ou seja, traz o claro e o breu, tudo em uma mesma obra, muito bem amarrada! Essa construção estética, a propósito, também conecta Noturno com o espetáculo que o precede: Claros Breus.
Como descreve Eucanaã Ferraz, na apresentação do disco, “não seria exagero ver no jogo entre a claridade e a treva uma tensão barroca”.
“Era um show que do título ao repertório tinha muita luz, mas tinha muito noturno. E o disco também foi assim. Muito sombrio, mas também fui atrás de muita luz. Tanto que já começa no escuro e termina no claro, com luminosidade”, conta Bethânia, referindo-se a Luminosidade, composição do grande Chico César, e ao encerramento do álbum com fragmentos do poema Uma Pequenina Luz, do português Jorge de Sena.
No álbum Noturno, Bethânia interpreta e, mais do que isso, recria canções de uma diversidade de compositores, gerações e espaços. Ela vai de Tim Bernardes, vocalista e guitarrista da banda O Terno, em Prudência, passando por Adriana Calcanhotto, autora de A Flor Encarnada e Dois de Junho, e Paulo Dáfilin, com De Onde Eu Vim, entre outros. Traz também a composição Vidalita, da cantora e compositora espanhola Mayte Martín.
As canções potentes de Bethânia
Ao comentar sobre as canções do álbum Noturno, Maria Bethânia explicou como fez para definir quais comporiam este seu mais novo trabalho. “Gosto de gravar aquilo que tem a ver com o que estou sentindo, com a ideia que eu pretendo que passe, realizando um desejo de encontro, de que minha voz chegue aos ouvidos, aos corações e às mentes. Então eu escolho os compositores com muita liberdade. O que vier, do lado que vier, de onde vier, e me convencer, será. Eu gosto de canção potente”, explica a artista.
A segunda faixa do disco é O Sopro do Fole, mistura da nostalgia com imaginários nordestinos, às vezes um tanto idealizados, em palavras, rimas e expressões como “sertão”, “boiada”, “seco do chão”. A letra e a música são de Zeca Veloso, filho de Caetano Veloso e sobrinho de Bethânia, e ganham uma outra dimensão na voz dela, acompanhada do acordeon de Toninho Ferragutti.
“O Zeca me mostrou essa canção não para que eu cantasse ou incluísse no repertório. Me mostrou como criação dele, o que ele estava pensando, a maneira como ele estava compondo. E eu fiquei apaixonada e pedi para cantar. Gosto tanto que dediquei ao meu público, que é minha alegria”, diz a cantora baiana.
Por sua vez, Prudência foi um pedido de Bethânia a Tim Bernardes. “Eu pedi a Tim para mandar canções para mim. Ele é muito bom, é danado. Gosto muito do Tim, é um compositor excelente e um menino como o Zeca. Fiquei feliz de poder gravar os dois”, comenta.
Além de A Flor Encarnada, Adriana Calcanhotto também compôs outra canção que integra o álbum Noturno, de Bethânia: Dois de Junho. A letra denuncia o racismo e as suas violentas consequências ao abordar a morte do menino Miguel, em Recife, que ocorreu em 2020.
O álbum Noturno nos traz um sopro de esperança
Em uma levada mais dançante, cheia de samba e dendê, Maria Bethânia mergulha nas matrizes afro-brasileiras na beleza de De Onde Eu Vim. A letra contrasta com a meia-luz da noite e afirma que “o sol há de brilhar”, em uma perspectiva esperançosa diante de “um suspiro de saudade solto pelo ar”. Ou, como diz a cantora, “a noite também cintila e tem a sua luz”.
Nesse sentido, o álbum Noturno traz ainda a participação de Xande de Pilares, em Cria da Comunidade, do próprio sambista em parceria com Serginho Meriti, em dueto com a cantora, que traz a força, a resistência e a vivacidade luminosa do samba. Afinal, nesses tempos sombrios, é preciso considerar sempre, como coloca Bethânia, que “a vida é prioridade”.
E aí? Quer observar, em cada canção, a claridade e a escuridão do álbum “Noturno”, de Maria Bethânia? Então, escolha sua plataforma de áudio favorita e admire mais uma obra-prima da artista baiana!