História da Música Para Lennon & McCartney de Milton Nascimento
Os amantes da música brasileira com certeza sabem da importância que a figura de Milton Nascimento possui para o cenário da MPB no Brasil, e conhecem mais ainda seus grandes sucessos, como Maria Maria, Caçador de Mim, ou Coração de Estudante.
O que pode não ser de conhecimento geral é a história peculiar de uma de suas canções mais interessantes, Para Lennon e McCartney, um recado marcante para os ídolos dos Beatles e uma parte importante da história da carreira do cantor e de sua parceria com o vanguardista Clube da Esquina.
Quer saber mais sobre os detalhes dessa criação e os motivos por trás da letra da canção, ou mesmo sobre sua ligação com a existência do grupo mineiro? Então continue acompanhando esse conteúdo que o Portal Versos e Prosas preparou para você.
História da Música Para Lennon & McCartney
A história de Para Lennon & McCartney esteve sempre ligada à história do próprio clube da esquina, assim como também esteve, curiosamente, a influência dos Beatles.
A música foi composta por Lô Borges, Márcio Borges e Fernando Brant, integrantes do famoso clube de Santa Tereza, no final dos anos 1960, e só ganhou vida na voz de Milton Nascimento em seu álbum “Milton”, de 1970, versão que se tornou mais conhecida e apreciada pelo público brasileiro.
Milton já era “padrinho” e integrante do grupo quando eternizou a canção no disco, e apesar de não ter participado da composição, contribuiu com a força inquestionável da sua voz, e mostrava o potencial que o conjunto tinha dois anos antes do lançamento do primeiro álbum do grupo, Clube da Esquina (1972).
Esse fato também se comprova no contexto de criação da canção, que, segundo depoimento dos próprios compositores, surgiu de improviso em uma festa de família na casa dos irmãos Borges, em meio a agitação e gritaria, enquanto esperavam a preparação de uma macarronada.
Desse jeito, despojado e informal, se consolidavam a sintonia e criatividade musical que ganhariam o Brasil alguns anos depois. Confira outras histórias das músicas conosco.
O Clube da Esquina e a influência dos Beatles
A influência dos Beatles no Clube da Esquina pode ser percebida desde os primórdios da criação do grupo, seja na amizade entre músicos jovens e talentosos, ou mesmo no histórico musical dos integrantes, que chegaram até mesmo a montar uma banda cover do grupo britânico antes de consolidarem suas carreiras autorais.
Além de estar presente nas raízes da banda e no título da música, a influência também pode ser percebida nos arranjos e melodia da canção, que referenciam com originalidade o som do rock britânico que explodia no mundo inteiro naquele momento.
A singela homenagem unida ao som original do Clube da Esquina mostrava que apesar de influenciados pelos ídolos, o grupo tinha muito a acrescentar ao cenário musical, e sua mistura criativa de ritmos não deixava nada a desejar à música produzida no circuito anglo-saxão.
Esse fato pode ser percebido de maneira implícita em Para Lennon & McCartney, cuja forma de recado e diálogo sugere uma conversa dos músicos com seus ídolos, e a possível insatisfação do grupo ao perceber o potencial que tinham em qualidade musical, ofuscado apenas pela desvantagem geográfica em relação ao mundo.
Quais eram os integrantes do álbum original?
Apesar da criação de uma canção em que se dão conta da situação desfavorecida da sua arte, o grupo seguiu apostando na originalidade, e lançaria seu primeiro álbum, “Clube da esquina”, no ano de 1972, conquistando incrível sucesso com um som totalmente inédito para o contexto musical brasileiro, e uma formação de músicos que chamava atenção não apenas pelo talento, mas também pelo seu número.
Vários músicos participaram da criação do álbum original, todos com seus talentos particulares e habilidades que certamente agregaram muito à qualidade do disco.
Confira quais foram os primeiros integrantes do Clube da Esquina:
- Milton Nascimento
- Lô Borges
- Beto Guedes
- Márcio Borges
- Fernando Brant
- Toninho Horta
- Wagner Tiso
- Nelson Ângelo
- Robertinho Silva
- Luiz Alves
- Nivaldo Ornelas
- Naná Vasconcelos
- Tavito
- Novelli
A formação mudaria com o tempo, mas a presença dos músicos na criação do álbum com certeza transformou a vida e carreira de todos a partir dali, fato já anunciado pela voz de Milton e pelo recado aos Beatles dois anos antes.
Presença de Milton Nascimento e repercussão da música
A marca de Milton Nascimento como voz que deu corpo à música veio como uma bênção do cantor para seus amigos, fato que se repetiria também com a sua presença marcante no primeiro disco do grupo.
Cantando e popularizando a canção no Brasil, Milton usava sua influência já consolidada para mostrar o que Minas gerais podia oferecer de melhor à música popular brasileira, e certamente conseguiu.
A canção ganhou presença no cenário da MPB a partir de então, reconhecida não só pelo público, em especial a audiência de Minas gerais, mas também por artistas importantes, como é o caso de Elis Regina, que gravou sua própria versão da música, o que a tornou ainda mais conhecida e respeitada nacionalmente e internacionalmente.
Além disso, Para Lennon & McCartney se manteve relevante durante anos, cantada por outros integrantes do Clube da Esquina e até mesmo por artistas de gêneros variados, como Samuel Rosa, vocalista do Skank.
O que a letra significa?
Apesar de não fazer menção clara a John Lennon e Paul McCartney, a letra sugere um recado dos músicos brasileiros à dupla, tratando nas entrelinhas sobre a ignorância dos Beatles a um contexto musical mundial, sobre a força da música brasileira e até mesmo das inseguranças que vêm com a repentina fama e com o sucesso internacional.
Os 3 fatores podem ser percebidos por inteiro na segunda estrofe da música, que diz:
“Não precisa medo, não
Não precisa da timidez
Todo dia é dia de viver
Eu sou da América do Sul
Eu sei, vocês não vão saber
Mas agora sou cowboy
Sou do ouro, eu sou vocês
Sou do mundo, sou Minas Gerais.”
Outros trechos, como “ Porque vocês não sabem do lixo ocidental, não precisam mais temer, não precisam da solidão”, reforçam a mensagem e sugerem um possível descontentamento dos próprios compositores com a visão que a música produzida nessa parte do globo possuía no contexto ocidental, fato que talvez limitaria o alcance de novos artistas ao cenário musical no mundo.
Sobre a carreira de Milton Nascimento
Mesmo antes do surgimento do clube da esquina, Milton Nascimento já fazia presença na história do MPB com suas composições autorais.
Sendo o membro mais velho do grupo, começou a carreira na década de 60, com o grupo W’s Boys, em Três Pontas, Minas Gerais, e ganhou reconhecimento nacional e mundial como um dos maiores representantes da MPB, tendo gravado mais de 34 álbuns, feito parcerias com diversos músicos e influenciado muitos outros, marcando a história do gênero com uma voz e estilo extremamente originais.
Além do sucesso comercial, Milton Nascimento também ajudou, ao lado dos amigos na parceria nos discos do Clube, a revolucionar o cenário musical brasileiro, abrindo as portas para um novo jeito de fazer e pensar música, que ajudaria a pavimentar o caminho trilhado por muitos outros artistas dali em diante.
Então, para acompanhar , mais uma vez “Para Lennon e McCartney”, este grande sucesso de Milton Nascimento e do Clube da Esquina, como um todo, acesse o player abaixo.
Alisson,
Clube da Esquina nunca foi um grupo musical. Foi um imenso encontro produtivo de amigos, sob a aura da mineiridade. Nunca houve um clube. Clube da Esquina, ainda que sem querer, é um forte movimento musical, baseado na originalidade, na criatividade, no inusitado, no rigor técnico, na poesia das letras e no sentimento montanhoso das melodias e harmonias. Para entendê-lo, ouça as obras de Milton, Beto, Lô, Venturini, Som Imaginário (este sim foi um grupo), Nelson Ângelo, Nivaldo Ornellas, Toninho Horta, Vagner Tiso, Robertinho Silva, Tavinho Moura e outros mais. O disco Clube da Esquina, fundamental para se entender tudo isso, é apenas uma gota preciosa nesse mar de encantamento. Vai fundo nas obras. Se gosta de música, você não vai se arrepender.
Falou tudo, meu amigo.
Falou tudo, meu amigo.
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Adoro esses meninos, esse movimento musical, que é o clube da esquina. Será eternizado! Pra sempre clube da esquina!!
Som que nos remetem a um tempo de poesias em movimento, olhar e cheiros. O som penetrante em nossas almas nos levavam ao imaginário futurista ….
👏🎶
Será que estou enganada? Espero que sim. Mas aqui tem sabor de depreciação aos Beatles, o que tenho certeza não seria aprovado pelos autores da musica. O mais curioso é que o próprio artigo reconhece que os músicos mineiros foram influencidos pelos Beatles e até tiveram bandas covers. Sim, eu bem me lembro delas. Boas bandas, por sinal. No entando, o mesmo autor interpreta de uma forma depreciativa o fato de Paul e John não os conhecerem. “A canção, em suma, fala nas entrelinhas sobre a ignorância dos Beatles a um contexto musical mundial”. Soou pesado como se os Beatles, precisamente Lennon e McCartney, fossem culpados devido a sua
“ignorância”…Comentário incrivelmente infeliz. Dá a impressão que não gostavam dos Beatles, que estão atacando John e Paul. E não estão. É bem o contrário. A critica é voltada para a situação dos músicos brasileiros. Não a eles. E são mencionados claramente no titulo de música: Para Lennon/McCartney.
Concordo totalmente com seu comentário, Virginia. Criticar os Beatles por desconhecerem o cenário musical mineiro ou brasileiro é absurdo. Aliás, Sérgio Mendes a essa altura já havia gravado e feito enorme sucesso com a versão de “The Fool on the Hill” com o Brasil ’66. Então, é muito pouco provável que Paul McCartney, autor da canção, não a tenha escutado e percebido a sonoridade tipicamente brasileira. Os Beatles são os responsáveis, com o produtor George Martin, por levarem a música clássica (“Eleanor Rigby”, “Pepperland”) e indiana (“Norwegian Wood”, “Love You To”, “Inner Light”) para o pop/rock. Ou podemos ir ainda mais longe, afirmando que levaram até mesmo o que não era música, mas percepções sensoriais (“Doctor Robert”, “Tomorrow Never Knows”, “Lucy in the Sky With Diamond”), para a música. Se não fizeram mais foi porque não deu tempo. Afinal, estavam ocupados demais com o fato de serem os Beatles, com o crescimento pessoal, com relacionamentos amorosos, com a administração dos negócios após a morte do empresário, Brian Epstein, ou, obviamente, com compor e gravar as próprias canções. Lembrando ainda que os Beatles estavam sempre conectados com as novidades musicais dos EUA e do próprio Reino Unido. E não era um mundo no qual tudo está à mão, em um clique, como hoje.