Chico Buarque nega autocensura de Com Açúcar, Com Afeto
O cantor e compositor Chico Buarque afirmou ter ficado incomodado com as reações à sua declaração de que não cantaria mais a música Com Açúcar, Com Afeto, composta por ele e sucesso na voz de Nara Leão. O artista negou que esteja promovendo uma “autocensura” e que esteja sofrendo críticas de movimentos feministas, destacando que não tentou “cancelar” a canção de 1967, “acusada” de machismo, mas sim que “simplesmente não tem mais vontade” de cantá-la.
“Criaram essa celeuma de que estou cancelando, me autocensurando, vetando. Tenha paciência. Não tenho nada a ver com isso. Deixar de cantar não é proibir, nem cancelar. A canção é realmente datada, simplesmente não tenho mais vontade de cantar, declarou Chico em entrevista ao site Brasil 247.
A polêmica começou depois que o artista carioca fez comentários sobre a música no documentário O Canto Livre de Nara Leão, da Globoplay, em comemoração aos 80 anos de nascimento da artista.
No filme, Chico comenta a canção que fez por encomenda da cantora, que queria uma letra de “mulher sofredora”. A música também fazia parte do repertório cantado pelo próprio compositor, mas ele defendeu que não a interpretaria mais por achar que “as feministas têm razão e que “a mulher não precisa ser tratada assim”, opinando ainda que, se estivesse viva, Nara também não cantaria.
Na letra de Com Açúcar, Com Afeto, a protagonista é uma mulher abandonada no lar e que ainda assim espera o marido com saudades. Segundo o artista, a reação à declaração foi “absurda”, já que ele não canta Com Açúcar, Com Afeto há anos.
“Achei que foi uma reação absurda. Não havia motivo. Não imaginei que fosse suscitar alguma polêmica, alguma controvérsia. Eu disse que não cantava mais ‘Com Açúcar, com afeto’, como de fato não canto há muitos e muitos anos. E um artista deixar de cantar uma música, não me parece uma notícia”, opinou ele, ao Brasil 247. Confira como surgiu a canção encomendada a Chico por Nara.
Chico Buarque ainda negou que tenha sido alvo de pressão de grupos feministas para deixar de interpretar a música, reiterando que considera a letra “meio datada”, apesar de entender que parte do público tem uma memória afetiva e “açucarada” da canção.
“O único feminista que criticou essa música fui eu. Continuo achando que é uma coisa meio vencida, essa coisa da mulher lamurienta, que fica em casa. Puxa, nós estamos no tempo da Anitta! As mulheres estão falando alto, estão de cabeça erguida e acho bonito isso. É uma conquista do movimento feminista. O movimento feminista tem uma grande importância e estou solidário com ele”, afirmou. “Agora, dizer que a cancelei, ou censurei, ou vetei é desinformação ou má fé”.
Chico ainda deu exemplos de outras composições que saíram de seu repertório por terem ficado “datadas”, uma delas o samba “Pelas tabelas”, que fala de “todo mundo na rua de blusa amarela” e da “cidade de noite batendo as panelas”, em referência ao movimento das Diretas Já, entre 1983 e 1984, movimento em prol de eleições democráticas para presidente da República. Confira outras notícias conosco.
“Não canto mais porque fala ‘Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela / Eu achei que era ela puxando o cordão’ ou ‘Quando ouvi a cidade de noite batendo as panelas / Eu pensei que era ela voltando’. Não dá mais. Era situada na época das Diretas Já. Ou seja, todo mundo batendo panela de camisa amarela, se eu cantar hoje…ficou datada, não é? Não quer dizer que eu renegue a música. Só não canto mais”, explicou, destacando ainda que não odeia suas composições como “Com Açúcar, com afeto”, mas que tem outras preferências.
“Tem também uma música muito desconhecida dessa época que é ‘Ela e sua janela’, que é essa mulher que fica em casa e o marido sai pra beber, pra jogar. Mas no fim, fala: ‘Mas outro moreno joga um novo aceno e uma jura fingida / e ela vai talvez viver de uma vez a vida’. É a mulher do “Com Açúcar, com Afeto” que se mandou com o moreno. Gosto mais dessa aí”, concluiu Chico, em entrevista ao site Brasil 247.