Guilherme Arantes valoriza a MPB e sua melancolia e critica a sofrência
O cantor e compositor paulistano Guilherme Arantes, um dos ícones da nossa Música Popular Brasileira, realizou, juntamente com a Orquestra Opus, um grande show no SESC Palladium, em Belo Horizonte (MG), na noite deste sábado (18). Liderada pelo maestro Leo Cunha, a orquestra contou com a participação mais do que especial do solista Derico Sciotti, que foi saxofonista do sexteto do Jô Soares.
Na própria apresentação, o artista fez questão de destacar a boa música brasileira, de falar de sua delicadeza e de valorizar grandes nomes nacionais que, assim como ele, engrandecem o nosso cancioneiro popular.
Artistas como Milton Nascimento, Flávio Venturini e Marcos Valle, de sua geração, e também nomes que surgiram mais adiante, como Herbert Vianna e Lulu Santos, foram citados por Guilherme Arantes que, em entrevista ao Versos e Prosas, após o show, demonstrou sua insatisfação com a chamada sofrência, que domina os hits de hoje. Ele fez questão de valorizar a música brasileira bem trabalhada, com muito amor e doçura, como o próprio artista, aliás, faz tão bem.
No show deste sábado (18), juntamente com a Orquestra Opus, Guilherme Arantes fez uma releitura, em formato de concerto, de grandes sucessos de sua carreira. Canções como Amanhã, êxtase, Nossa Imensidão a Dois, Um Dia, Um Adeus e Planeta Água emocionaram a todos os presentes neste que, de fato, pode se chamar de espetáculo, na essência da palavra!
Após a belíssima e emocionante apresentação, Guilherme Arantes falou ao Versos e Prosas, em detalhes, sobre o tema que já havia começado a desenvolver durante o show: a boa música brasileira. O artista fez questão de ressaltar, com bastante humildade, nomes que, assim como ele, gostam de letras bem trabalhadas e que, de certa maneira, o influenciam em suas composições. “Eu tenho muita influência do Milton (Nascimento), do Tom Jobim, do Flávio Venturini, do Taiguara, que era um querido, muito importante. A nossa geração é uma geração muito nobre, do Lulu Santos, da Marina Lima, o Herbert Vianna, os que vieram depois, como os Titãs, eu respeito muito essa gente, eu acho que a gente tem uma história muito bonita da música brasileira”, destacou Guilherme Arantes, que prosseguiu, falando de uma troca de influências que há entre os artistas que cultivam a boa música.
“O Marcos Valle também é uma influência muito importante para mim. Acaba sendo uma rede de influências, em que uns influenciam os outros”, diz o artista paulistano.
A delicadeza da MPB e a grosseria dos hits de hoje
Na sequência da entrevista ao Versos e Prosas, Guilherme Arantes destacou a beleza das letras bem trabalhadas do nosso cancioneiro, a doçura que há em cada uma das letras. Ele aproveitou para criticar o movimento da onda atual, a chamada sofrência. Confira outras matérias especiais conosco.
“A música brasileira tem uma presença muito grande, uma delicadeza que não pode se perder. Eu sempre falo nos shows para que a gente cultive essa doçura da música brasileira, que não fique essa coisa grosseira da festa, da balada, essa coisa da sofrência, essa coisa dos shows sertanejos, e que a música brasileira volte a ser uma música de reflexão, do sentimento da melancolia, da nostalgia, da introspecção, que esse é o forte do Brasil”, desabafa Guilherme Arantes.
Guilherme Arantes prepara turnê de seu mais novo álbum
O mais novo álbum de Guilherme Arantes, A Desordem dos Templários, que está disponível desde 28 de julho, data em que o artista completou 68 anos, vai ganhar uma turnê no ano que vem. O artista vai passar pelas principais capitais brasileiras, sendo que, em duas delas, já há datas e locais definidos.
O novo álbum de Guilherme Arantes, A Desordem dos Templários, contém 10 faixas inéditas, sendo 8 canções, um tema instrumental progressivo e, ainda, uma vinheta de sonoplastia conceitual.
Em 2019, Guilherme Arantes viajou com sua esposa, Márcia Miguez Gonzales, para a Espanha, para uma temporada de estudos de música renascentista e barroca e, também, para um período de imersão em Literatura e História.
A intenção original era uma reciclagem, com a retomada de estudos de Scarlatti, Handel, Couperin, Bach, clássicos do cravo. Sem nenhuma intenção de produzir material novo, era uma volta radical à estaca-zero na música.
Com a chegada da pandemia da Covid-19 na Europa, no início de 2020 essa temporada de reclusão se intensificou, restringindo-se a circulação pelo perímetro da província de Ávila, em Castilla & León, a norte de Madrid. O clima serrano, os costumes de cidade histórica interiorana foram propiciando novas inspirações melódicas, em letras reflexivas com forte teor emocional. Dessa forma, recluso e estudando bastante, as letras foram saindo, quase que naturalmente, e deu origem a este mais novo disco de Guilherme Arantes que, ano que vem, será apresentado, em turnê, pelo país. Confira tudo sobre este mais recente trabalho de Guilherme Arantes.
Guilherme Arantes falou, ao Versos e Prosas, sobre a turnê e o retorno às origens, do rock progressivo brasileiro da década de 1970. Ele aproveita para adiantar duas datas, já marcadas, em grandes capitais brasileiras. “A partir de março, a gente vai fazer o Rio, dia 11, e dia 18, a gente faz em São Paulo. Vai ser com a banda, em um formato mais progressivo, que segue a linha do disco, a gente vai adaptar várias músicas do meu repertório a esse formato mais progressivo, do rock progressivo. Vai amarrar bem a minha carreira”, destacou o artista.
O show na capital fluminense será no Vivo Rio e o de São Paulo, no Tom Brasil. Outras capitais brasileiras devem ser contempladas e as datas serão divulgadas, posteriormente. Em Belo Horizonte, onde Guilherme Arantes se apresentou este sábado (18), o espetáculo deve ser no Palácio das Artes, ainda no primeiro semestre de 2022, conforme o próprio artista.
Guilherme Arantes critica situação do Brasil e deve retornar à Espanha, após turnê
Ao ser questionado se, após a turnê A Desordem dos Templários, se mudaria para a Espanha, Guilherme Arantes, que também tem casa por lá, afirmou que sim e aproveitou para avaliar a situação da cultura e da política brasileira. “Ano que vem, é um ano atípico: vamos ter Copa do Mundo e eleição. Praticamente, não vamos conseguir trabalhar, fazer excursão, vai ser um ano muito prejudicado, muito difícil. Eu pretendo voltar para montar minhas coisas lá, do estúdio lá. Eu estou montando um estúdio lá, para ter mais condição do que eu tive este ano, porque eu tive que improvisar muito, porque estava tudo aqui no Brasil”, revelou ele.
O artista criticou a falta de apoio à cultura, por parte dos políticos brasileiros, mas acredita em um futuro melhor, em breve. “A gente tem casa lá (na Espanha), lá é minha segunda morada, mas meu lugar é aqui no Brasil, mas o Brasil está muito prejudicado, pela política, culturalmente, está muito difícil aqui no Brasil. Está muito prejudicado, mas eu acho que é uma época, isso aí vai passar, rápido vai virar esta página, é uma esperança que eu tenho”, finalizou Guilherme Arantes.
Para acompanhar a apresentação de Guilherme Arantes junto à Orquestra Opus, ocorrida na noite deste sábado (18), em Belo Horizonte (MG), acesse o player abaixo.