Geraldo Azevedo: ‘o violão é o instrumento mais amigo do povo brasileiro’

O cantor, compositor e violonista pernambucano Geraldo Azevedo se apresentou, na sexta-feira (14), no Cine Theatro Brasil Vallourec, na Praça Sete, no Centro de Belo Horizonte (MG), com seu projeto Voz e Violão.

No espetáculo, clássicos como Dia Branco, Moça Bonita, Táxi Lunar, Dona da Minha Cabeça, de seu repertório próprio, além de Paula e Bebeto, em uma belíssima homenagem a Milton Nascimento, foram brilhantemente interpretados pelo artista! Os detalhes completos do show Voz e Violão você confere na coluna da Nathália Ferreira.

Antes do show, ele recebeu a equipe do Versos e Prosas, para uma conversa mais do que especial! Logo no início, ele já brincou, ao ser apresentado ao nosso projeto:

“Já que é um site de música, vou pegar aqui meu violão!”, disse, já demonstrando, ali, toda a sua simpatia!

Na sequência, Geraldo Azevedo falou sobre sua relação com a música, o violão, grandes nomes que o influenciaram, os projetos que segue executando e, deu spoiler, ao Versos e Prosas, adiantando o que vem por aí, em seus mais de 50 anos de estrada! Confira!

Geraldo Azevedo e seu amor pelo violão

No início da entrevista, o cantor, compositor e violonista pernambucano nos contou como se deu sua proximidade com o violão e citou grandes influências que recebeu, lá no início de carreira:

“A base do meu trabalho é voz e violão. Eventualmente, eu faço show com banda, tenho show também em parceria. Por exemplo, Cantoria (1984), foi o primeiro show que eu fiz em conjunto, a base também era o violão, eu, o Xangai, o Vital (Farias), Elomar, e depois, teve o Grande Encontro. A maioria dos shows que eu faço, no Brasil, é de voz e violão. Talvez, a pessoa que mais me influenciou, foi Dorival Caymmi. Quando eu era adolescente, eu conheci o trabalho de Dorival Caymmi, que tinha um disco chamado Canções Praieiras, que era só de voz e violão. Era um disco que me encantava de um jeito, que eu ficava impressionado!”, iniciou o artista, nascido em Petrolina (Pe), que prosseguiu:

“E, depois, veio o meu ídolo, João Gilberto, que, apesar de ter muitas canções arranjadas, tocava voz e violão também, uma coisa maravilhosa e que me impressionava! E quando eu comecei a assistir show, em Petrolina, na minha adolescência, os artistas, para poder chegar lá, naquele tempo, era tudo de carro, não podia levar uma banda grande. Então, Nelson Gonçalves, Roberto Carlos, Orlando Silva, Orlando Dias, Ângela Maria, Cauby Peixoto: todas estas pessoas chegavam com um violonista. Então, eu acho que o violão é o instrumento mais amigo do povo brasileiro! E a gente tem uma intimidade, a gente abraça ele para poder tocar, a gente toca abraçado, entendeu? E a gente leva ele para todos os lugares”, destacou Azevedo, falando sobre sua proximidade com o violão.

Em seguida, o cantor destacou sua família, que também o influenciou na carreira artística: “Eu nasci, desde que eu me entendo por gente, tinha um violão em minha casa! Eu tinha uns tios que tocavam violão, meu pai tocava um pouquinho de violão, e minha mãe, também gostava de cantar demais! Então, eu comecei a aprender violão sozinho, eu ficava curioso, olhava para os dedinhos da pessoa, e depois tentava imitá-los. Eu nunca estudei, e aprendi, autodidaticamente, e pelo gosto musical, que minha família tinha. O violão é o instrumento do povo brasileiro, assim como a viola é para o caipira!”, destaca.

O caráter intimista do show Voz e Violão

Na sequência da entrevista, Geraldo Azevedo comentou, com o Versos e Prosas, sobre o caráter de maior proximidade com o público que o show Voz e Violão promove. Segundo ele, seria como se os presentes no espetáculo estivessem na sala de casa, bem pertinho do artista:

“Com certeza! Eu faço show com banda e sinto que, o show que faço de voz e violão, há uma interação maior com o público. É como se ele estivesse em uma sala, fazendo uma serenata, um sarau. Então, as pessoas cantam. Hoje, eu me sinto muito honrado, gratificado com minha vida artística, pelo fato de ter algumas canções, eu sempre brinco, que já atravessaram décadas, atravessaram séculos, e já atravessaram até milênios (risos). Eu repito essas canções, em todos os meus shows, canções que eu comecei a cantar na década de 60”, diz. Confira outras notícias conosco.

Em seguida, ele pega o violão e se apresenta ali, no meio da entrevista, com a música Canção da Despedida, composta por ele e Geraldo Vandré, em 1968, mesmo ano do AI-5, que aumentou a censura e a repressão no país.

“Já vou embora

Mas sei que vou voltar

Amor não chora

Se eu volto é pra ficar

Amor não chora

Que a hora é de deixar”, diz trecho da letra, interpretada com brilhantismo e empolgação por Geraldo Azevedo.

Ele ainda nos conta sobre o “rei mal coroado” e a quem se refere na canção, mas esta fica para o nosso História da Música, que é bastante interessante!

O carinho pelo Clube da Esquina

Geraldo Azevedo não deixou de ressaltar e valorizar, também, a nossa cultura brasileira! Ele destacou, apenas na música, os diversos estilos e gêneros que apenas o seu estado, Pernambuco, possui:

“A cultura brasileira tem um poder maravilhoso! Eu tenho muito orgulho de fazer parte da cultura brasileira, porque, além da diversidade que tem, cada lugar tem suas manifestações, e eu não estou falando só de música. Eu sou de Pernambuco, e só em Pernambuco, tem tanto ritmo diferente, é claro que influenciado pela Europa, pelo povo africano, mas lá tem maracatu, ciranda, xaxado, baião, coco, frevo, um tanto de coisa que é só no meu estado. E cada estado que você vai, tem seus tipos de manifestações musicais. É impressionante essa riqueza que o Brasil tem!”, destaca.

Na sequência, ele citou, com muito carinho, o Clube da Esquina, movimento vanguardista mineiro que completa 50 anos neste 2022:

“Aqui em Minas Gerais, a musicalidade do povo mineiro é uma coisa que sempre me encantou! Eu brinco muito com o mineiro que, por ter nascido à beira do Rio São Francisco, que desde cedo, eu bebo as águas de Minas, de forma que essa musicalidade também já me pegou! E, quando eu cheguei no Rio de Janeiro, eu me lembro que eu fiquei muito amigo dos mineiros: Milton Nascimento, Toninho Horta, Nivaldo Ornellas, essas pessoas todas, e que me influenciaram bastante, foram muito importantes na minha formação musical, o Clube da Esquina! Vixe Maria! Que coisa mais linda! Não tem movimento mais bonito, no Brasil, do que o Clube da Esquina! De forma que eu me sinto abençoado por ter tido todas essas influências e por manter a minha carreira viva e acesa!”, comemora.

Geraldo Azevedo: o que vem por aí?

O cantor e compositor pernambucano fez um balanço de seus últimos projetos e o retorno aos palcos, após o momento mais crítico da pandemia da Covid-19:

“Acabou a pandemia, eu voltei com a agenda bem danada de boa! Além de estar com o projeto com o Chico César, chamado Violivoz, que a gente está percorrendo o Brasil junto, de vez em quando, a gente se encontra para fazer esse show, estamos mantendo também O Grande Encontro, eu, Elba (Ramalho) e Alceu (Valença), e minha carreira solo, principalmente com voz e violão, onde tem mais shows. Eventualmente, com uma banda, eu faço shows. Esse ano, eu fiz um show e família, com meus filhos, no Dia dos Pais, eu tenho uma filha que está em Portugal, não participou do show, mas, dos três no Brasil, todos os três cantaram comigo e foi muito emocionante!”, destaca Azevedo, que prossegue, inclusive dando spoiler:

“Essa relação com o público, é uma coisa maravilhosa! Eu continuo compondo muito. Esse show, que eu estou fazendo com o Chico César, agora em dezembro, a gente vai gravar um DVD, lá em Salvador, na Concha Acústica. E também pretendo lançar algumas músicas novas, que eu estou cheio de canções novas, para lançar para o público brasileiro, de forma que estou em alta atividade, e que Deus me dê muita luz e força, para continuar com mais precisão e, ao mesmo tempo, que seja logo!”, deseja.

Para encerrar a entrevista, Geraldo Azevedo canta um de seus clássicos: Dia Branco, composto em parceria com Renato Rocha, e lançado em 1981, por Azevedo, em seu álbum Inclinações Musicais. Dois anos antes, no entanto, a cantora Amelinha gravou a canção, para seu álbum Frevo Mulher, de 1979.

“Se você vier

Pro que der e vier

Comigo

Eu lhe prometo o Sol

Se hoje o Sol sair

Ou a chuva

Se a chuva cair”, finalizou Geraldo Azevedo, emocionando aos ali presentes!

Marcos Aurélio

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