Não Basta Ser Rasta, de Da Ghama, eleva a autoestima do reggae brasileiro
Não Basta Ser Rasta, o mais novo single do cantor, compositor e guitarrista Da Ghama, cofundador do Cidade Negra, já está disponível, em todos os aplicativos de áudio, desde este domingo, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.
Não Basta Ser Rasta integra o álbum “BaixAfrikaBrasil. Tanto o disco, quanto o single, celebram os 30 anos de carreira do artista.
Da Ghama falou, ao Versos e Prosas, sobre o significado do single, bem como de sua parceria com a banda maranhense Tribo de Jah. Confira tudo, na sequência.
Não Basta Ser Rasta e a reverência ao reggae brasileiro
Novo single do álbum BaixAfrikaBrasil, de Da Ghama, “Não Basta Ser Rasta” celebra os 30 anos de carreira do cantor e guitarrista, um dos fundadores do Cidade Negra, e também sua longa amizade com a banda Tribo de Jah. Composta por Fauzi Beydoun e lançada originalmente em 1996 no álbum Ruínas da Babilônia, a canção, que já era um clássico na voz de Zé Orlando, agora revive na interpretação de Da Ghama, admirador dos maranhenses desde a primeira hora:
“A gente vem seguindo junto faz muito tempo, mas faltava uma parceria de peso. E ‘Não Basta Ser Rasta’ tem um significado especial pra mim, porque trata de algo fundamental, nos conscientiza pra ir além das aparências, não tomar ninguém apenas pela embalagem”, inicia o artista, que complementa, falando do significado do single:
“Eu me identifico bastante com a mensagem que eles falam: não basta ser rasta, tem que ter as atitudes positivas, como um cidadão, como um homem, como um trabalhador, como uma pessoa, que faz parte de uma sociedade. Ao mesmo tempo, a música eleva a autoestima do reggae brasileiro, quando conta a história dos lugares que o reggae está passando e já passou e vai passar. Isso é muito bacana, no sentido de abrir caminhos para o reggae brasileiro, para várias partes do mundo! É uma música que eu tenho muita identificação e é o motivo de eu regravá-la!”, afirma Da Ghama, em entrevista ao Versos e Prosas.
O álbum de Da Ghama e as participações especiais
O single Não Basta Ser Rasta integra o álbum BaixAfrikaBrasil, que tem outros clássicos do reggae brasileiro, como “História do Brasil”, de Edson Gomes, “Pique Natty Dread”, do Planta e Raiz, e “Falar a Verdade”, carro-chefe do disco que lançou o Cidade Negra em 1991. Confira outros lançamentos conosco.
O disco traz, ainda, as participações especiais de Lanna Rodrigues (The Voice Brasil), Serjão Loroza, As Martinhas (filhas de Martinho da Vila), Fernando Magalhães (Barão Vermelho), todos e todas à vontade no som de Da Ghama e sua histórica preocupação com as questões humanas, sociais e ambientais.
O reggae apareceu no Brasil ainda no início dos anos 1970 e, tijolo por tijolo, tomou a música brasileira. Depois que Gil ganhou as paradas com “Não Chore Mais”, aí mesmo que pegou fogo. Artistas chamavam a atenção pra isso quando davam entrevistas sobre seus novos discos: “Ah! Tem um reggae também!” Apesar dessa influência massiva, o contato era quase sempre superficial, epidérmico, mais afeito ao ritmo do que à mensagem – aspectos indissociáveis na cativante invenção musical dos jamaicanos.
A consagração definitiva do reggae no Brasil
Isso mudou no início dos anos 1990. Com sua identidade já bem forjada por aqui, o reggae começou a ocupar espaço no mercado, ganhando destaque nos palcos e chamando a atenção das gravadoras. É quando surgem Cidade Negra e Tribo de Jah, bandas que concretariam a estrada pra tudo que estava por vir, fazendo músicas com letras francas, reveladoras da rude realidade das periferias e das palafitas. Os quase 3 mil quilômetros que separam o Rio de Janeiro (RJ) e São Luís (MA) não impediram os encontros e a troca de experiências. Da Ghama lembra bem:
“Fomos fazer uma série de shows em campanhas políticas do Maranhão e a Tribo estava junto. Rodamos o estado em turnê naquele começo dos anos 90, convivemos, nos conhecemos melhor, foi muito legal. Os anos se passaram, a gente sempre falando deles, eles sempre falando da gente, e seguimos na mesma vibe, esse carinho todo”, diz o artista.
A ideia de gravar uma música da Tribo de Jah era antiga:
“Nos encontrávamos pelo país participando de festivais e dividindo palcos, mas eu sentia falta de uma conexão mais direta. Sempre fui da militância, sigo em busca da ‘verdadeira verdade’, e a Tribo também, sempre foi muito dessa base. Minha identificação com o Fauzi, portanto, vem desde o começo. A gente ficou muito brother, uma aproximação que melhorou com a chegada da internet. Mas eu sentia falta de compor junto, de um gravar a música do outro”, destaca.
Não Basta Ser Rasta: uma música significativa
A faixa lançada no Dia da Consciência Negra, de acordo com Da Ghama, é uma canção emblemática:
“A mensagem me faz lembrar uma frase de Malcolm X quando voltou de uma visita ao Islã: ‘Nem todo preto é irmão, nem todo branco é inimigo’. Ele se deu conta de que o mal não está na cor da pele, no invólucro, na aparência”.
“O reggae é apenas entretenimento
Mas pode libertar mentes e almas
Dança e música com sentimento
Rolando sem ódio, rolando sem trauma
Não basta ser rasta
É preciso ser puro o seu coração
Não basta ser rasta, não
Pra obter graça é preciso perdão
Não basta ser rasta
É preciso estar certo da convicção
Não basta ser rasta, não
É preciso ser justo em sua razão”, diz trecho de Não Basta Ser Rasta.
Da Ghama foi cativado por essa mensagem, “porque exalta atitudes bacanas, positivas, dignas”. As enormes carapinhas, ou dreadlocks, tidas como sagradas pelos rastas, servem como referência:
“Essa música me leva pra essa pensamento, de caras que usam dreadlocks mas não são rastas autênticos, pois não respeitam o irmão, não respeitam a própria mulher nem o planeta. Isso não bate com o propósito e o comportamento dos rastas. O que realmente interessa não está no cabelo, no visual. Essa música da Tribo é toda ótima, tem imagens lindas, tem o azul do Caribe e o sol do Nordeste, nos faz viajar, mas é esse refrão provocante o que me fez querer gravar, pra levar adiante essa ideia com a minha interpretação”, detalha Da Ghama.
Quis a vida que “Não Basta Ser Rasta” chegasse com tudo. Adiado pela pandemia, o lançamento do single acontece em um momento crucial, com o jogo das aparências rolando solto a bordo de fake news e negacionismo. Apontar o dedo, denunciar injustiças, exigir direitos – o reggae foi feito pra isso.
Confira o single “Não Basta Ser Rasta”, na interpretação de Da Ghama, em sua plataforma de áudio. Para conferir o clipe da canção, acesse o canal de Da Ghama no YouTube.