Álbum O Abismo da Prata, de Gian Correa e Os Chorões Alterados, une a música às artes plásticas
O álbum O Abismo da Prata, do violonista 7 cordas, compositor e arranjador, Gian Correa, e os Chorões Alterados, já está disponível, desde este sábado (15), tanto em formato físico, quanto no digital.
O álbum O Abismo da Prata nasceu da parceria entre Gian Correa e o artista plástico Apolo Torres. O projeto que aborda temas sociais tem como maneira de expressão o diálogo entre duas artes: o grafite e o choro.
Para cada uma das oito composições de Gian Correa, um muro foi pintado na cidade de São Paulo (SP) por Apolo. Através do QR Code presente em cada muro, é possível se apreciar a pintura mural e a respectiva música simultaneamente.
Confira todos os detalhes do álbum O Abismo da Prata, de Gian Correa e Os Chorões Alterados, a seguir, com o Versos e Prosas.
As participações especiais que integram o álbum
A música diz respeito ao olhar de Gian Correa sobre o choro contemporâneo, este gênero centenário que nas mãos de Gian toma nova forma, com uma sonoridade fresca que flerta com elementos musicais atuais, mas não deixa de lado os fundamentos da música brasileira.
Para o álbum O Abismo da Prata, Gian contou com alguns dos maiores representantes em seus instrumentos da cena musical paulistana: Cainã Cavalcante no violão de 6 cordas, Enrique Menezes nas flautas, Henrique Araújo ao cavaquinho, bandolim e violão tenor, e Rafael Toledo na percussão. O quarteto forma o grupo Os Chorões Alterados.
O trabalho conta ainda com participações especiais de Juliana Amaral (voz), Renato Braz (voz) e Shai Maestro/NY (piano Rhodes).
“Gian Correa é uma convergência de superlativos. Como toca, como arranja, como compõe!
Músico raro. muito inquieto com a cabeça a milhão por hora!
Veio para enriquecer a música brasileira. Altíssimo nível! Uma honra poder dizer essas palavras sobre ele”, afirma o cantor, compositor e violonista Guinga.
No álbum O Abismo da Prata, Gian Correa traz a expressão sonora da indignação a uma lógica sistêmica de opressão e abuso. O foco é a denúncia das injustiças sociais. Cada faixa, ainda, é acompanhada por um painel de Apolo Torres que traz, em si, a tradução, em imagem, do mesmo conceito. Cada painel é pintado em um ponto da cidade de São Paulo de grande importância para o choro.
O álbum O Abismo da Prata: faixa a faixa
Acompanhe, a seguir, faixa a faixa do disco do violonista Gian Correa e Os Chorões Alterados, bem como cada espaço da cidade de São Paulo, homenageado nas canções:
1 – Nua e Crua
Avenida Paes de Barros, 955, Bairro da Mooca.
Homenagem ao Clube do Choro de São Paulo.
Na verdade, é tudo injusto e desnecessário. Essa é a realidade, nua e crua. Tudo que há são mãos pueris que trabalham enquanto outras brincam. Só há, de um lado, o futuro e, de outro, o fim. Só há o silêncio e o descaso, assentados e irremovíveis do palanque sagrado da desigualdade. Como sofreram os profetas que quiseram derrotar a feiura que caminha pelos corredores da história.
Como rodaram as rocas e os teares que tecem fios inquebráveis, grilhões que passam qual herança, atravessando as gerações.
2 – Não Se Entrega
Rua General Osório 46, Bairro Sta. Efigênia.
Homenagem à tradicional roda de choro a loja Contemporânea.
O dia a dia é melodia que se repete. Em meio à batalha, permanecer talvez não seja dever, mas certamente é salvação. A mão frágil que entrega balas no farol é a mesma que toca, firme, cordas e coração. É espírito que se levanta e carrega, na penumbra, o mundo inteiro em suas costas.
É dura e mutável a caminhada, do cantar preguiçoso do galo ao cair violento das noites.
Resta somente a resistência àqueles que não se entregam.
3 – O Diplomado da Corte
Rua Belmiro Braga, 16, Bairro Vila Madalena.
Homenagem ao Bar do Cidão.
Como ter coragem pra bater no próprio peito e tomar como teu aquilo que de teu nada tem? Não seria melhor dar graças, sempre e em todo lugar, por aquilo que te foi entregue em bandeja de prata? É ético teu destino? É veloz ou morosa tua jornada? Assim, o diplomado se torna o bobo, e tem na corte o seu picadeiro. Mas o problema vai vir quando o circo pegar fogo.
4 – Suor Por Matéria
Rua 13 de Maio, 749, Bairro Bixiga.
Homenagem ao bar Villagio Café.
Caminhando cinzentos pelas ruas, uma coleção de mercadorias nos espreita.
Relógios de corda, repetimos e repetimos, dando de cabeça baixa nosso suor e nosso brilho, bilhetes de troca de cada vez menos valor. Perdemos a nós mesmos e ganhamos coisas — e que tristes são as coisas! Somos também dignos de louvor.
Mais valem as forças e histórias e amores e tudo mais que não pode e não será comprado. Somos, também e principalmente, imateriais.
5 – Notas Amargas
Rua Capital Federal, 30, Bairro Sumaré.
Homenagem à Roda de Choro do Silvinho, Bar do Bacalhau, Escola de Choro de SP e Rádio Tupi.
O sabor da tirania é amargo e amargas são as notas que tão inumanamente trocam de mãos. É também amargo o odor putrefato dos frutos que já foram colhidos podres do pé, como se fosse esse seu inevitável porvir. Maçãs proibidas que tomamos e comemos e, com amargura, cuspimos de volta ao chão. Mas tanta amargura não será em vão: serão amargos seus destinos, que nós, com notas nossas de outro soar, reduziremos a pó.
6 – Lampejo de Consciência
Rua Simpatia, 159, Bairro Vila Madalena.
Homenagem ao Bar Ó Do Borogodó.
Lampejos de um sonho azulado. Clarão, faísca, centelha. Homens que removem seus ternos e abandonam suas gravatas. Despem-se também de preconceitos, privilégios, prata. Comungam todos do mesmo pão. Mãos abertas e união. Só por um instante, por um segundo, ainda que fugaz.
Mas é só sonho e tudo some em rápido espiral com o soar cruel do despertador.
É hora de ir trabalhar.
7 – Vida Que Segue
Rua Jequirituba, 566, Bairro Grajaú.
Homenagem ao luthier de instrumentos de choro Agnaldo Luz.
Somos as dores dos ombros que carregam enxadas. Os calos nos dedos. Somos as serras e os machados que cortam madeira. As faces escurecidas pelo carvão que move a fábrica, que move o trem. Madeira e carvão. Café com pão, café com pão. Indivíduos-locomotiva, tordos silenciados, calados com as bocas de arroz e feijão.
Um passo atrás do outro, encontrando o sol que entra pelas rachaduras das paredes de gesso da opressão.
8 – Esperançar
Av. Baruel, 259, Bairro Casa Verde.
Homenagem à roda de choro do luthier Manoel Andrade.
Os muros não vão se derrubar sozinhos, tampouco vão, de bom grado, se abrir as algemas.
O asfalto não vai quebrar por vontade própria: cabe à flor furá-lo. Agir é verbo.
Mudar é verbo. Lutar é verbo. Quaisquer que sejam nossas armas, do sangue à poesia, esperar é inconcebível. Não basta a esperança. Devemos esperançar.
O álbum O Abismo da Prata é editado pelo
selo fonográfico norte-americano Anzic Records. O disco foi gravado em 25 e 26 de novembro de 2020 em duas sessões no estúdio paulistano Da Pá Virada.
Para ouvir o álbum O Abismo da Prata, do violonista Gian Correa e Os Chorões Alterados, escolha sua plataforma digital. Além disso, vale lembrar, há também o formato físico do álbum.