História da música Mulher do Fim do Mundo de Elza Soares

A canção Mulher do fim do mundo marcou a carreira de Elza Soares com um relato pessoal e poderoso das mazelas da vida, e da resistência de uma artista contra a dureza das adversidades.

Que tal relembrar a carreira da Cantora e conhecer a história de uma de suas músicas mais poderosas, lançada já no fim da vida? 

Se você quer saber mais, não pare de ler. O  Versos e Prosas preparou um conteúdo especial  para você sobre os bastidores de criação dessa canção.

Acompanhe.

História da música Mulher do fim do mundo

 

Mulher do fim do mundo é a segunda faixa do álbum homônimo lançado por Elza Soares em 2015, seu  primeiro trabalho de inéditas após mais de 30 discos na bagagem.

 

Composta por Alice Coutinho e Rômulo Fróes, a canção, como todo o álbum, dialoga com a carreira e a vida da própria Elza, falando sobre a resistência às adversidades e a luta para sobreviver cantando até o fim, representando os traços marcantes de uma artista que nunca se deixou vencer pela vida.

 

Com um instrumental que mistura vários ritmos, a canção marcou o tom do disco trazendo um som angustiado, misturando  toques de samba, com guitarras e instrumentos modernos, simbolizando uma transformação na já longeva carreira da cantora.

 

A canção também ganhou um clipe oficial, onde suas lutas pessoais e a luta das mulheres negras são representadas com imagens de grande impacto, somadas a voz rouca da cantora e ao  semblante cansado de uma mulher que nunca perdeu a força de viver.

Sucesso  retumbante do primeiro álbum de inéditas

 

Arquitetado  pelo produtor já consagrado Guilherme Kastrup, o álbum de mesmo nome da música, A Mulher do Fim do Mundo, consolidou uma mudança de estilos no repertório da cantora, que já vinha apostando em discos mais modernos desde o começo dos anos 2000.

 

Em uma entrevista sobre a criação do disco, Elza contou que a ideia de lançar A mulher do fim do mundo veio após uma proposta do próprio Kastrup, e da sua vontade de fazer um disco só de inéditas, ao invés de apenas continuar regravando canções já consagradas. (Confira outras histórias das músicas conosco.

Reunindo um grupo de músicos da cena musical de São Paulo, o produtor apostou no projeto e na vontade da cantora por cantar a realidade das minorias, e o resultado se tornou um dos maiores sucessos da música brasileira contemporânea.

 

O disco acabou ganhando repercussão  no lançamento, e foi aclamado pela crítica brasileira e internacional, entrando para a lista de melhores álbuns do ano de veículos como o The New York Times, o jornal The Guardian, e o site de Música Pitchfork, um dos mais aclamados do mundo.

 

Nada mais justo para o trabalho de uma  cantora que já tinha sido eleita a voz do milênio pela BBC em 1999.

Relações entre a canção  e a vida de Elza

Apesar de não ser a faixa comercial do disco, Mulher do fim do mundo é talvez a mais pessoal, tecendo conexões entre a letra e a trajetória de vida de Elza que perduraram até sua morte, mostrando como música e artista não existem separados.

Confira as relações que Mulher do fim do mundo traça com a vida de Elza Soares:

  • Letra que conecta o samba com as dificuldades da vida

Usando analogias ao samba e ao carnaval, a canção conta nas entrelinhas sobre as dificuldades que a cantora passou, quando fala sobre a dor do abandono e da solidão, marcas que sentiu na pele.

  • A resistência e a força para seguir em frente

A canção também fala sobre a força para resistir à vida dura e aos problemas constantes, força que marcou a vida dura de Elza, desde a fome aos casamentos conturbados, a solidão e a perda dos filhos.

  • Cantando Até o fim

Uma das frases mais tocantes da canção, o trecho “eu vou cantar até o fim” marca toda a trajetória musical e de vida da cantora, que continuou na ativa até os 91 anos e cantou até seu penúltimo dia de vida.

O símbolo da persistência de uma artista

Interligada profundamente com a vida de Elza,  não há dúvidas que a canção fala sobre a sua longa trajetória, como disse a própria cantora quando perguntada sobre o trabalho, e essa trajetória foi marcada acima de tudo, pela persistência.

 

Falecida aos 91 anos sem nunca ter parado de cantar, a artista mostrou ao mundo que a idade nunca foi desculpa para estagnar na vida, mesmo com o peso das turbulências que enfrentou, e a prova disso veio com o sucesso do  álbum já no fim da carreira.

 

A persistência se faz também presente  na vontade de arriscar novos estilos sem medo do resultado, característica que marcou principalmente os últimos trabalhos da cantora, e seu estilo exótico que reflete em grande parte a liberdade que sentia em se expressar como quisesse.

Analisando a letra de Mulher do fim do mundo

A canção começa com a metáfora entre a vida de Elza e as alegrias do carnaval, onde a cantora pôde lavar suas dores na vastidão dos confetes e das fantasias.

 

Confira as duas primeiras estrofes:

Meu choro não é nada além de carnaval

É lágrima de samba na ponta dos pés

A multidão avança como vendaval

Me joga na avenida que não sei qualé

 

Pirata e Super Homem cantam o calor

Um peixe amarelo beija minha mão

As asas de um anjo soltas pelo chão

Na chuva de confetes deixo a minha dor

 

Em seguida,  no refrão, Elza traz os seus sofrimentos  e a vontade de despejar na avenida todos os sofrimentos e opiniões, deixando tudo para trás.

Na avenida deixei lá

 

A pele preta e a minha voz

 

Na avenida deixei lá

 

A minha fala, minha opinião

 

A minha casa, minha solidão

 

Joguei do alto do terceiro andar

Em outra parte marcante, a letra confirma a libertação da cantora, que

então brada a vontade de cantar até o fim, a única coisa que parece lhe restar da vida.

Cantar

Eu quero cantar até o fim

Me deixem cantar até o fim

Até o fim eu vou cantar

Eu vou cantar até o fim

Eu sou mulher do fim do mundo

Eu vou, eu vou, eu vou cantar, me deixem cantar até o fim

Um pouco sobre a carreira de  Elza Soares

Com mais de 60 anos de carreira, Elza Soares foi uma das vozes mais importantes da música brasileira, cantando sucessos do samba, jazz, bossa nova e muitos outros, como a canção “ Se acaso Você Chegasse”, que alavancou sua carreira na década de 60.

Com uma trajetória de vida extremamente difícil,  a cantora se tornou símbolo da resistência das mulheres negras e sua resiliência na vida e na carreira a acompanhou até a morte, em 20 de janeiro de 2022, inspirando artistas do Brasil e do mundo.

Relembre uma das músicas mais fortes e pessoais da cantora.

Clique no Player abaixo e assista ao Clipe de Mulher do fim do mundo.

Marcos Aurélio

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