História da música Alegria, Alegria, de Caetano Veloso

Nascida da mente brilhante de um jovem Caetano Veloso, Alegria, Alegria é uma das canções mais importantes da sua carreira e da história da música brasileira, criando o estopim para o surgimento da Tropicália e de um novo jeito de fazer música.

Quer saber como isso aconteceu? Então não pare de ler. Vamos te contar tudo sobre a história e repercussão desse verdadeiro hino da música brasileira, tudo isso e muito mais, logo abaixo.

Confira:

História da Música Alegria, Alegria

Lançada oficialmente em 1967, ano em que foi apresentada no III festival de música da TV Record, Alegria, Alegria nascia como um embrião de um movimento musical revolucionário, e, composta por Caetano, trazia na melodia um caldeirão de inspirações musicais que marcariam o Brasil dali em diante.

Com uma letra marcante e elementos disruptivos, a canção deu início, junto a Domingo no Parque, de Gil, à onda do Tropicalismo no Brasil, se tornando uma das mais emblemáticas da sua história, e chegando a ser eleita a 10ª canção mais importante da música brasileira, pela revista Rolling Stone.

Alegria, Alegria trazia todo o ideal musical que Gil e Caetano cozinhavam nas mentes jovens e criativas, e, com elementos de pop, rock e marchinha, chamou atenção para (uma nova forma de fazer música https://versoseprosas.com.br/), e para a verve artística de um cantor que dava os primeiros passos rumo ao sucesso.

Alegria, Alegria: Um marco da Tropicália

Com Alegria, Alegria apresentada às claras no festival, Caetano tentava abrir as portas à uma nova ideia do que devia ser a música brasileira, algo que unia os ritmos pop e tradicionais para fazer uma outra coisa, uma coisa nova, jovem e atrativa.

Provocando com sutileza a opinião tradicionalista da época, o cantor se aliou aos argentinos da banda Beat Boys, e trazia uma mensagem de leveza e despreocupação em um ritmo bastante impopular à época: o rock.

Foi com essa mistura que surgia, nesse festival, uma das maiores figuras do tropicalismo, que viria a estourar a partir dali; e uma das duas canções que serviram como semente de toda a proliferação dessa ideia.

Junto a Domingo no Parque, Alegria, Alegria consolidava então, o ponto zero da Tropicália, condensando em uma pequena canção tudo que os dois amigos queriam dizer ao Brasil.

Alegria, Alegria e as principais canções da Tropicália

Com tanta importância e sucesso, não demoraria até que Alegria, Alegria tomasse conta do Brasil, se tornando, ao longo dos anos, um verdadeiro hino, ao lado de outras canções marcantes da Tropicália.

Entre as canções que marcaram esse movimento, estão sucessos como:

Outras menções honrosas, como Lindonéia, Coração materno e Miserere Nobis também marcaram o movimento, figurando no disco Tropicália, ou Panis et Circenses ,lançado por todos os artistas principais do movimento, em 1968, trabalho que marcou de vez essa ascensão.

A repercussão e importância da canção

Ovacionada no Festival daquele ano, Alegria, Alegria não ganharia a competição, ficando em quarto lugar, mas alavancaria a carreira e imagem de Caetano ao estrelato, como poucas vezes antes. Confira outras histórias das músicas conosco.

O sucesso da letra simples e controversa foi tanto, e tal foi sua importância, que ainda hoje a canção é tida como a grande música de Caetano, e a que mais representa sua carreira e sua essência, fato de que o próprio discorda.

Clamando por liberdade em uma época de ascensão da ditadura, e propondo uma mudança no padrão musical tradicionalista, Alegria, Alegria trazia na letra as preocupações da juventude moldada na década de 60, e uma vontade de inovar e romper barreiras.

Com tudo isso, unia na melodia disruptiva e na letra enigmática, a capacidade artística de uma lenda em ascensão, e um monumento singelo de um novo estilo musical, uma revolução que tomaria corpo e forma não muito tempo depois.

Analisando a letra de Alegria, Alegria

Carregando várias referências culturais e artísticas, a letra de Alegria, Alegria já mostrava a qualidade lírica de Caetano, e nos primeiros versos podemos ver a ambiguidade de significado e as intenções musicais que tinha, “caminhando contra o vento” dos padrões tradicionais.

Caminhando contra o vento

Sem lenço e sem documento

No Sol de quase dezembro

Eu vou

O Sol se reparte em crimes

Espaçonaves, guerrilhas

Em cardinales bonitas

Eu vou

Em versos seguintes, vemos referências políticas e culturais diversas, que retratam de forma enigmática as questões caras ao artista, e a pluralidade de referências que caracteriza a música desse gênero.

Veja essas estrofes:

Em caras de presidentes

Em grandes beijos de amor

Em dentes, pernas, bandeiras

Bomba e Brigitte Bardot

Eu tomo uma Coca-Cola

Ela pensa em casamento

E uma canção me consola

Eu vou

Por entre fotos e nomes

Sem livros e sem fuzil

Sem fome, sem telefone

No coração do Brasil

Nos últimos versos, vemos um eu lírico despreocupado, que só quer seguir cantando sem lenço ou documento, na contracorrente do mundo e quem sabe até da música brasileira.

Sem lenço, sem documento

Nada no bolso ou nas mãos

Eu quero seguir vivendo, amor

Eu vou

Por que não? Por que não?

Por que não? Por que não?

Por que não? Por que não?

Um pouco sobre a Tropicália

Tendo seu início em 1967, com Gilberto Gil e Caetano Veloso, e sua coroação com o lançamento do disco que sintetizou sua identidade no ano seguinte, a Tropicália foi um dos mais importantes movimentos artísticos brasileiros, se espalhando para além da música, atingindo as artes plásticas, o cinema e também gerando frutos no teatro.

Prezando pela união de ritmos e inspirações, e pela falta de amarras com as tradições musicais, a onda do Tropicalismo teria repercussões muitos anos depois, mostrando ao Brasil uma nova maneira de se pensar a música.

Durando apenas dois anos, o movimento original teve fim com o exílio de Caetano e Gil, em 1969, mas seria preservado pela figura de Gal Costa, ganhando novos contornos e reformulações nos anos seguintes.

Relembre o momento onde tudo começou. Clique no Player abaixo e escute de novo a melodia de Alegria, Alegria.

Marcos Aurélio

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