EP Nu Com a Minha Música, de Ney Matogrosso, comemora seus 80 anos
O EP Nu Com a Minha Música, do cantor e compositor Ney Matogrosso, já está disponível em todas as plataformas de áudio, desde este domingo (1), data em que o artista sul-mato-grossense comemorou 80 anos.
O EP Nu Com a Minha Música conta com quatro faixas, que antecipam as 12 de um álbum homônimo, que está previsto para ser lançado, pela gravadora Sony Music, em novembro deste ano.
O EP Nu Com a Minha Música resume bem, em suas quatro gravações, as intenções e ideologias de Ney Matogrosso, iniciada na década de 1970.
Confira tudo sobre o EP Nu Com a Minha Música, do cantor e compositor Ney Matogrosso, lançado no dia em que o artista comemora 80 anos de muita vitalidade!
A trajetória de Ney Matogrosso
Ney de Souza Pereira, o Ney Matogrosso, que nasceu na cidade de Bela Vista, Mato Grosso do Sul, no dia 1 de agosto de 1941, é cantor, compositor, dançarino, ator e diretor.
Ex-integrante da banda Secos & Molhados entre 1973 e 1974, Ney Matogrosso foi o artista que mais sobressaiu do grupo após iniciar sua carreira solo, com o disco Água do Céu — Pássaro (1975) e com suas apresentações subsequentes.
Ney Matogrosso é considerado pela revista Rolling Stone como a terceira maior voz brasileira de todos os tempos e, pela mesma revista, trigésimo primeiro maior artista brasileiro de todos os tempos.
Embora tenha começado relativamente tarde, das canções poéticas e de gêneros híbridos dos Secos e Molhados ele passou a interpretar outros compositores do país, como Chico Buarque, Cartola, Rita Lee, Tom Jobim, construindo um repertório que prima pela qualidade e versatilidade.
Em 1983, o artista completava dez anos de estreia no cenário artístico e já possuía dois Discos de platina e dois Discos de Ouro, inclusive pela enorme repercussão da canção Homem com H, de 1981.
Ney muito além da música
Como iluminador de espetáculos, Ney Matogrosso tem supervisionado toda a produção da área em suas próprias apresentações e também merece destaque seu trabalho de iluminação e seleção de repertório no “show” Ideologia (1988) de Cazuza e no “show” Para todos de Chico Buarque em 1993, ao que afirma: “quero que as luzes provoquem sensações nas pessoas”.
Ney Matogrosso também vem atuando no cinema. Ele estreou, em 2008, no curta-metragem Depois de Tudo, dirigido por Rafael Saar, e no filme Luz das Trevas de 2009, dirigido por Helena Ignez.
O EP Nu Com a Minha Música e seus bastidores
O EP Nu Com a Minha Música, que já está disponível nas plataformas de streaming desde domingo (1), conta com quatro músicas que vão compor o álbum Nu Com a Minha Música, previsto para ser lançado em novembro, pela gravadora Sony Music.
Até pelo menos meados dos anos 1980, era hábito entre os artistas da música brasileira reservar um período do ano para percorrer, cidade por cidade, todo o interior de São Paulo. Cantor, músicos e equipe técnica entravam em um ônibus e passavam um mês dentro dele, algumas vezes até mais do que isso. Estacionavam de manhã na primeira cidade, a equipe ia direto para o teatro montar cenário e equipamento, passavam o som à tarde, o show acontecia à noite. Público saciado, iam para o hotel dormir. De manhã, entravam de novo no ônibus rumo à próxima parada. A imagem é mais ou menos aquela, muito clássica, que vemos em filmes sobre o período dourado da música – e que gerou a expressão “na estrada”, de tom tão poético que é usada até hoje, quando as turnês são quase sempre aéreas.
Canção de Caetano Veloso lançada no LP Outras Palavras (1981), “Nu Com a Minha Música” é um registro fiel daquelas viagens pelo interior paulista, um retrato de força visual tão potente que quase transforma som em cinema e nos carrega junto na viagem.
Novo trabalho resume carreira de Ney Matogrosso
O EP Nu Com a Minha Música conta com quatro faixas que, de certa forma, resumem bem a carreira de Ney Matogrosso, suas ideologias e intenções, ao longo de seus 50 anos de estrada.
Concebido por Ney Matogrosso durante a pandemia da Covid-19, o EP Nu Com a Minha Música, bem como o álbum homônimo que vem aí, tem produção musical dividida entre quatro nomes com quem o intérprete vem trabalhando nos últimos tempos: Sacha Amback, Marcello Gonçalves, Ricardo Silveira e Leandro Braga. Cada produtor usa formações e bandas diferentes.
Ney tem nítidas as memórias de estrada que Caetano descreve tão bem. Lembra especialmente da turnê do LP Bandido (1976), nos primeiros anos de sua carreira solo, quando percorreu justamente esse circuito pelo interior paulista. Na nova gravação, a canção ganha divisão rítmica mais acelerada sob a produção de Marcello Gonçalves. Marcello toca o violão de sete cordas e assina o arranjo, que conta com Anat Cohen (clarinete), Marc Kakon (bouzouki) e Joca Perpignan (percussão).
Todo o repertório do álbum foi pinçado em um baú especialíssimo, que Ney cultiva desde sempre. São músicas que o artista conheceu na voz de outros intérpretes e que o atingiram de imediato, não fazendo diferença se tenham vindo do repertório anos 1960 da Jovem Guarda ou do álbum mais recente de um compositor da novíssima geração. Em alguns casos, a canção pode ficar guardada no baú por décadas até que chegue o momento ideal de ser incluída em um álbum ou um show. O importante é que, quando regravada, ela ajude a fundamentar o texto, o discurso, o roteiro planejado por Ney para aquele trabalho específico.
O álbum Nu Com a Minha Música, portanto, pode ser compreendido também como um disco de memórias – bem antigas e muito recentes – a formar um quadro muito contemporâneo. Peças recolhidas “na estrada, embaixo do céu” nesses 50 anos de carreira musical de Ney Matogrosso, mas que, no roteiro imaginado pelo artista, fazem muito mais sentido hoje do que poderiam fazer em qualquer outro tempo.
As demais faixas do EP Nu Com a Minha Música
O EP Nu Com a Minha Música ainda conta com outras três canções também muito especiais nas memórias de Ney Matogrosso.
Com arranjo de piano e violoncelo criado por Sacha Amback, “Mi Unicornio Azul” revela-se absolutamente atual, sobretudo pelo discurso. A música foi escrita por Silvio Rodríguez em 1982 e lançada no álbum “En Vivo”, que o autor dividiu no mesmo ano com Pablo Milanés – como ele, um expoente da Nova Trova Cubana. Os versos aparentemente surrealistas parecem ocultar uma mensagem homoerótica, de um amor vivido (e proibido) entre dois homens, algo impensável em Cuba e naquele período. O unicórnio, como se sabe, é um símbolo ligado ao imaginário gay. Ney ouviu a canção ainda no início dos anos 1980, ao vivo, em uma apresentação de Rodríguez e Milanés no Canecão, no Rio de Janeiro.
Três décadas mais nova é “Se Não For Amor, Eu Cegue”. Ney Matogrosso conheceu essa parceria de Lenine e Lula Queiroga em Angra dos Reis, na casa de José Maurício Machline. O empresário costuma receber seus convidados para festas animadas, sempre com muita música. Em algum momento da tarde, o shuffle do som os levou à gravação original de Lenine, lançada no álbum Chão (2011). Ney teve que interromper os passos de dança do anfitrião: “Zé, que música é essa? Ele está dizendo ‘se não for amor, eu cegue’? É isso mesmo? Quero gravar isso”. Mais uma para o baú que viria à tona agora. O arranjo que Ricardo Silveira preparou para a versão de Ney Matogrosso tem Renato Neto no piano, Claudio Infante na bateria, Zero na percussão e Liminha no baixo.
Ney Matogrosso também toca Raul
O EP Nu Com a Minha Música também conta com uma velha e popular canção da dupla Raul Seixas e Paulo Coelho. A mais antiga entre as quatro faixas do EP é também a mais conhecida. Com letra de Paulo Coelho, “Gita” (1974) é um clássico absoluto do repertório de Raul Seixas. O clima épico da versão original é mantido aqui, sob a produção de Leandro Braga, que também toca o piano. Leandro criou um grandioso arranjo de sopros e cordas.
E Ney manteve inclusive a fala de Raul na introdução: “Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando/ Foi justamente num sonho que Ele me falou”.
Vale lembrar, ainda, que Ney Matogrosso já tem um belíssimo histórico como intérprete de Raul. Em 1977, quando selecionava repertório para o LP “Pecado”, Ney procurou o Maluco Beleza em busca de novidades. Acabou regravando “Metamorfose Ambulante” – e sua versão é tão ou mais representativa do que a do próprio autor. Logo em seguida, Raul foi atrás de Ney, levando na sacola uma demo de “Mata Virgem”. A música entraria, poucos anos depois, no álbum Ney Matogrosso (1981). Por fim, completando a lista, “A Maçã” ganharia versão de Ney no recente Bloco na Rua (2019).
Para ouvir cada faixa do EP Nu Com a Minha Música, na espera do álbum homônimo que está previsto para novembro, é só escolher sua plataforma de áudio favorita! Agora, para curtir o clipe da canção Nu Com a Minha Música, visite o Canal de Ney Matogrosso no Youtube.