Renato Teixeira e Fagner se unem, para gravação de disco inédito
O álbum de inéditas Naturezas, que reuniu, de forma inédita, dois ícones da nossa Música Popular Brasileira, Renato Teixeira e Raimundo Fagner, já está disponível em todos os players de áudio, desde esta sexta-feira (20).
O disco celebra a amizade de muitos anos entre os artistas, com parceria de músicas captadas no porão onde fica o endereço atual da gravadora Kuarup, que por coincidência foi residência de Renato nos anos 70.
O disco possui dez faixas, sendo oito delas inéditas e duas regravações de clássicos dos artistas: Tocando em Frente e Mucuripe.
Confira os detalhes do álbum Naturezas, de Renato Teixeira e Fagner, a seguir, com o Versos e Prosas.
A trajetória de Renato Teixeira
Com uma carreira consagrada, celebrando 50 anos de estrada e mais de 30 álbuns lançados, o cantor e compositor Renato Teixeira se consolida como uma das maiores expressões da música popular brasileira. Autor de clássicos como Romaria, eternizada por Elis Regina, e Tocando Em Frente, gravada por Maria Bethânia, uma parceria dele com Almir Sater, além de Um Violeiro Toca, gravada por Almir Sater e Sérgio Reis, o músico nascido em Santos, com passagem por Ubatuba e crescido em Taubaté, carrega em seu DNA a sexta geração de músicos da família Teixeira.
Defensor incansável da música caipira e de raiz do Brasil, Renato coleciona várias parcerias e participações em projetos premiados como o disco Ao Vivo Em Tatuí, com a dupla Pena Branca & Xavantinho e os álbuns Amizade Sincera I e II com o cantor Sérgio Reis e os trabalhos Ar e +Ar com o eterno parceiro Almir Sater, que conquistaram o prêmio GRAMMY Latino, além de projetos com Zé Geraldo, Oswaldo Montenegro e Xangai, entre outros artistas.
Renato Teixeira realizou o sonho de ter boa parte de seu vasto repertório de gravações e composições revisitado no projeto Terra de Sonhos, registro ao vivo que foi gravado com acompanhamento da Orquestra de Mato Grosso, considerado um dos trabalhos mais importantes de sua carreira e o que mais gosta de ouvir. O seu mais recente disco pela Kuarup sob regência do maestro Leandro Carvalho foi indicado ao GRAMMY Latino e ao Prêmio da Música Brasileira.
A carreira de Fagner
Com uma carreira consolidada em mais de 45 anos de estrada e 40 discos lançados, a trajetória artística do músico, cantor, compositor e produtor Raimundo Fagner segue caminhos diferentes em uma bem sucedida missão de trazer a cultura nordestina e cearense para o Brasil e exterior em seus trabalhos e parcerias, se tornando um dos artistas mais versáteis e premiados da história da música popular brasileira de todos os tempos.
A amizade com Belchior, Jorge Mello, Rodger Rogério, Ednardo e outros artistas criou o movimento Pessoal do Ceará, que trouxe outras sonoridades dentro da nova música que se fazia nos anos 70. Seu trabalho como produtor na gravadora CBS (atual Sony Music) nos anos 80 foi decisivo para revelar grandes nomes da MPB como Zé Ramalho, Elba Ramalho, Amelinha e Robertinho de Recife entre outros.
Autor de clássicos como Canteiros, Mucuripe, parceria dele com Belchior, cantada por Elis Regina e eternizada por Roberto Carlos, o sucesso fez dele um grande compositor além de premiado intérprete de hits que tem a sua marca e voz inconfundível como Revelação, Noturno (Coração Alado), Eternas Ondas, Deslizes e Borbulhas de Amor.
Eterno torcedor do time do Fortaleza, o músico lançou vários discos, alguns em língua espanhola e outros projetos em parceria com Luiz Gonzaga, Ney Matogrosso, Belchior, Zé Ramalho e Zeca Baleiro, um projeto de gravação de serestas e acaba de gravar músicas em parceria com Elba Ramalho, em homenagem a Luiz Gonzaga.
Álbum Naturezas e a gravação em antiga casa de Renato Teixeira
A amizade de Renato Teixeira e Fagner vem de longa data. Os músicos compõem juntos a alguns anos e resolveram colocar o desejo de lançar um álbum como prioridade. A ideia surgiu com a troca de e-mails e tomou forma com o surgimento dos aplicativos de áudios e mensagens que permitem e facilitam a troca de músicas e letras. O projeto ganhou vida agora na Kuarup, gravadora com mais de 40 anos, que tem seis álbuns de Renato Teixeira em seu catálogo e que o músico costuma chamar com carinho de sua casa fonográfica e sua antiga casa por uma inexplicável coincidência de endereços. Outro evento que tornou possível a realização do projeto do disco, gravações, ensaios e o lançamento do trabalho foi a inauguração do estúdio da Kuarup, espaço para atender os artistas contratados e parceiros da gravadora.
A sala ganhou o nome de Renato Teixeira, pois o músico ensaiava no local nos anos 70 e recebia alguns artistas para tocar e compor, tais como Belchior, Guilherme Arantes e Fagner, que em 1973 levou a fita de seu 1º disco Manera Fru Fru, Manera, para ouvir no estúdio improvisado, espaço que tinha também um cantinho para um modesto laboratório fotográfico.
O endereço foi também sua residência, onde Renato vivia com a família, e foi lá que ele compôs Romaria. Hoje por uma coincidência inexplicável o atual endereço é a sede da gravadora Kuarup em São Paulo, razão da inspirada e merecida homenagem. Resultado: a memória afetiva de Renato Teixeira foi para o espaço.
O repertório de Naturezas
O repertório de dez músicas é inédito e traz duas regravações, Tocando Em Frente e Mucuripe, celebrando a parceria de Renato Teixeira e Fagner, que mostram as suas influências paulista e cearense. A sonoridade não divide a personalidade musical de cada artista e sim acrescenta. O projeto reúne e mistura histórias, parcerias, composições, melodias, experiências, carreiras, estilos e naturezas diferentes.
O álbum se chama Naturezas e foi lançado, nas plataformas digitais, nesta sexta-feira, dia 20 de maio, data muito especial, que comemora o aniversário de 77 anos de Renato Teixeira. A edição física em CD sai em junho.
Comemorando 30 anos, a música Tocando em Frente foi lançada como o primeiro single de trabalho, já disponibilizada nas plataformas digitais, seguida pela inédita Eu Comigo Mesmo e o clássico Mucuripe, todas antecedendo o lançamento do disco.
A bela arte gráfica do álbum foi comandada por Elifas Andreato, prestigiado e premiado designer, responsável por capas antológicas de discos dos mais importantes artistas da música popular brasileira, que nos deixou recentemente. A inédita capa do álbum Naturezas foi a sua última criação para discos fonográficos.
Álbum Naturezas: faixa a faixa
Renato Teixeira e Fagner abrem os trabalhos com dois clássicos criados com outros parceiros.
Tocando em Frente, de Renato Teixeira e Almir Sater (em Naturezas os três, Renato, Fagner e Almir cantam a canção) e Mucuripe, o clássico da dupla Belchior e Fagner, que também entra em cena para formatar uma espécie de saudação a parceria estreante.
Em seguida, ouvimos Arte e Poesia, uma espécie de visão dos novos parceiros a respeito da vida moderna e onde eles se posicionam sobre o que possa ser melhor para si próprios nesses novos tempos.
Eu Só Quero Ser Feliz protagonizou talvez o momento mais maluco desse trabalho. Por um erro no envio de uma melodia para Renato Teixeira colocar letra, Fagner encaminhou uma gravação de uma música inédita de Antônio Adolfo que, por alguma razão, estava em seu arquivo no celular. Acontece.
A canção chegou solada por um piano magnificamente bem tocado o que levou Renato a desconfiar que o parceiro Fagner era também um pianista de tirar o fôlego. Surpreso com essa revelação Renato se animou e foi logo metendo a caneta naquelas notas expressivas. Era como se os versos já estivessem todos lá, pedindo para serem revelados.
Para deixar o momento mais confuso ainda, surge a revelação de que já existia uma letra para aquela melodia, assinada pelo grande Fausto Nilo. Mas nesse tipo de situação, ninguém tem culpa, foi o destino que quis assim e depois de algumas informações, todas por sinal muito bem humoradas, Renato acabou se tornando o mais novo parceiro de Antônio Adolfo, por culpa das circunstâncias.
Fagner, como grande intérprete que é, sentiu toda a verdade da bela música e diz como ninguém o recado da canção: a consciência de que temos o dom de sermos felizes e a determinação de irmos sempre nessa direção.
Para dar mais peso na mensagem da canção, Renato cita uma frase de dona Francisca, mãe de Raimundo que lhe disse, quando ele partia para se transformar no grande Fagner: “Cada um sabe de si”!
As demais faixas do disco
Juro Procê, cantada por Renato Teixeira, é uma espécie de sinopse do sonho hippie onde jovens confrontavam e contestavam valores opressores em torno dos quais se organizaram socialmente todas as gerações surgidas no pós-segunda guerra. Sem complexidades, simples e direta, Juro Procê propõem uma vida vivida à luz do tempo, onde para se achar o bom caminho é preciso haver carinho, um bom vinho e um violão. Confira outros lançamentos conosco.
Eu Comigo Mesmo vem na sequência e aí percebemos os dois parceiros indo numa mesma direção. A conclusão surpreendente da canção é quase uma celebração da parceria que o tempo todo mostrou a unidade desses dois compositores brasileiros que fazem parte efetiva do grande cast da música popular brasileira. As vozes combinam com suas naturezas, ora Renato acostumado a contar histórias do seu jeito levando a narrativa com a naturalidade de sempre, ora Fagner, transbordando a energia que fez dele um dos maiores cantores do mundo. É nesse momento que mostram o quanto pode ser rico um trabalho que soma naturezas, histórias, comportamentos e, principalmente, amor pela arte.
Para O Nosso Amor Amém fala do momento da cura, quando algo que não ia bem com a saúde de uma pessoa deságua no passado e sente-se a leveza que evidencia as melhores sensações que um ser humano pode desfrutar quando o destino lhe sorri. De certa maneira cada um já passou, em algum momento da vida, pelo alívio que traz a cura. Então surge novamente Almir Sater e o trio se recompõe para emocionados, cantarem juntos e em uníssono a canção que fala de fé, esperança e cura. Um dos mais belos momentos desse expressivo manifesto de brasilidade que é o álbum Naturezas.
A homenagem de Renato e Fagner a grandes companheiros
Linda de Mansinho é uma declaração de amor a alguém que foi embora e deixou a solidão em seu lugar. Mas a música, por mais torturante que seja a sua declaração de ausência, traz sempre uma aura de esperança. “Eu queria tanto abrir aquela porta e ver você chegando, linda de mansinho”. O bom astral da canção lembra outros momentos da MPB, onde a resignação não dói tanto pois, acompanhada de belos acordes, nos brinda com o consolo da alegria.
Rastros da Paixão é uma homenagem ao compositor Evaldo Gouveia, vizinho da casa, onde Fagner nasceu e foi criado em Fortaleza. Evaldo era afilhado de seus pais. Essa coincidência artística tem detalhes significativos: Evaldo e Fares Lopes, irmão mais velho de Fagner, formavam uma dupla de cantadores de serestas de grande prestigio em Fortaleza e isso marcou muito a infância de Raimundinho, como a vizinhança costumava tratar o menino Fagner. Não fazia tanto tempo que Evaldo partira e, motivado pela emoção da despedida do inesquecível vizinho, surge a melodia inspirada no universo de amor onde Evaldo criou um dos mais belos repertórios da música brasileira. Renato Teixeira, que conhece bem a maneira de Gouveia desenvolver seus raciocínios, fez sua parte: quem sentiu no peito o golpe dos seus versos, nunca mais será o mesmo cidadão. Viva Evaldo Gouveia!
Aqui é Ceará – essa melodia chegou no Renato à capela, que é quando a música não tem acompanhamento de qualquer instrumento. Só a voz, cantando a linha melódica.
Renato estava voando para Anguilla, um território ultramarino inglês no Caribe e, para deixar a travessia mais interessante, colocou o fone e compôs a letra no ar, voando para um ambiente marítimo que lembra muito o Ceará. Um observador mais atento percebe a métrica sugerida pela melodia conduzindo os versos. Renato confessa que além da homenagem ao estado de Fagner, a música reverencia também sua longa amizade com Belchior.
Para curtir, reverenciar e apreciar cada acorde do álbum “Naturezas”, que reuniu Renato Teixeira e Raimundo Fagner em um só disco, acesse sua plataforma de streaming predileta.