História da música Paisagem da Janela de Lô Borges
Com 50 anos de história, o primeiro disco do Clube da Esquina continua influente e relevante para a música nacional até hoje, e os fãs do grupo não conseguem esquecer suas músicas mais icônicas, como a clássica Paisagem da Janela, canção que marcou como poucas a essência da música popular mineira e brasileira.
Quer saber mais sobre a história dessa música que se tornou um hino para o público de Minas Gerais?
Confira logo abaixo tudo sobre a criação da canção, a parceria dos amigos do clube da esquina e a influência que a música teve para a música popular brasileira, se mantendo relevante ainda hoje.
Acompanhe:
História da Música Paisagem da janela
Paisagem da Janela nasceu como parte do álbum de estreia do Clube da Esquina, em 1972, que revolucionou a história da MPB Brasileira e lançou o grupo de músicos mineiros ao estrelato.
A canção foi composta por Lô Borges e Fernando Brant, membros originais do grupo, e ganhou vida na voz do próprio Lô na primeira gravação da música para o álbum, se tornando uma das canções mais famosas do disco e de sua carreira.
Com uma letra que retrata as paisagens interioranas de Minas Gerais, a canção se tornou marca registrada de toda a música mineira, pela forma ilustrativa com que representa a vida do interior e a Igreja de Lourdes em Belo Horizonte, informação compartilhada pelo próprio Fernando Brant.
Segundo Brant, a inspiração para a canção veio enquanto observava a janela da casa dos pais no bairro dos funcionários, na capital mineira, e é reflexo da realidade de Minas Gerais vivida por ele, que era jornalista da revista “O cruzeiro” à época.
Uma parceria entre os amigos do Clube da Esquina
Apesar de ter composição e voz de Lô Borges, a música ganharia repercussão na versão de outro membro do grupo, o cantor Beto Guedes, numa gravação feita em 1983, mostrando a colaboração criativa que existiu sempre entre os amigos do clube de Santa Tereza.
Assim como aconteceu com as composições do primeiro disco, a colaboração dos amigos em Paisagem da janela se mostrou duradoura, continuando muitos anos depois com novas versões da canção feitas por outros membros, como Milton Nascimento e Flávio Venturini. Confira outras histórias das músicas conosco.
A química da amizade e a história musical do grupo também se refletem na canção, com um som e harmonia que retratam a realidade interiorana de Minas, ambiente que uniu o grupo de amigos e deu a inspiração para criarem suas músicas.
Repercussão da música e suas regravações
Ao lado de outros sucessos do disco, como “Tudo que você podia ser “ ou “Um girassol da cor do seu cabelo”, Paisagem da janela se tornaria um clássico nacional, ganhando repercussão não só com o público brasileiro, mas também entre os artistas da música nacional, dada a quantidade de versões diferentes que a canção possui.
Abaixo você pode conferir as vozes que deram seu toque à canção dos mineiros:
- Beto Guedes – Versão lançada em 1983;
- Milton Nascimento – Gravação ao vivo feita também em 1983;
- Flávio Venturini – Versão gravada em 1998;
- Elba Ramalho — Lançou sua gravação em 1995;
- Luiza Possi – Gravou a sua versão no CD Flores do Clube da Esquina, em 2008;
- Samuel Rosa — Cantou a música ao lado do próprio Lô Borges em uma gravação ao vivo em 2016;
- Michelle Leal — Também lançou a sua própria versão da música em 2015.
O hino do isolamento na pandemia
Não bastasse o sucesso comercial e popular, a canção ganharia repercussão nacional mais uma vez em um contexto totalmente diferente, fruto de uma ação solidária iniciada pelo próprio Lô Borges durante o período de isolamento, vivenciado por todos, devido à pandemia da Covid-19.
Em uma parceria com o laboratório Hermes Pardini, o cantor mobilizou as pessoas de todo o Brasil a gravarem suas versões da música olhando pela janela, registrando as diferentes paisagens de todo o país.
O resultado foi um clipe colaborativo feito com 4 mil vídeos e fotos de pessoas cantando Paisagem da Janela, contando com participações dos 26 estados brasileiros e até de outros países, como Alemanha, França, Canadá e até Tailândia.
Além do público, alguns artistas também registraram seus momentos na janela, como o Músico Rogério Flausino, do Jota Quest, e o jornalista Zeca Camargo.
O videoclipe com as participações colaborativas ganhou bastante vulto, e foi lançado oficialmente nas redes sociais, sendo muito popular nesse período.
Breve análise da letra da canção
Apesar do aspecto bucólico que ilustra belamente a canção, a letra da música também reflete nas entrelinhas a situação política e social do Brasil da época, período em que o país vivia a ditadura militar, e comunica as opiniões dos artistas sobre a situação.
O fato é sutilmente exposto em trechos como esse:
Mensageiro natural de coisas naturais
Quando eu falava dessas cores mórbidas
Quando eu falava desses homens sórdidos
Quando eu falava deste temporal”
Metáforas com as expressões “ temporal “ e “homens sórdidos” podem ser interpretadas como comentários sobre o período e sobre os homens que estavam no poder, e a repressão que os artistas sofriam por conta deles.
A mensagem geral, porém, ainda se manteve alegre e otimista, visto a recepção que a canção recebeu do público, que ainda hoje segue cantando trechos como o icônico:
“Da janela lateral do quarto de dormir
Vejo uma igreja, um sinal de glória
Vejo um muro branco e um voo pássaro
Vejo uma grade, um velho sinal”
Um pouco sobre a trajetória de Lô Borges
Salomão Borges Filho, o Lô Borges, foi um dos fundadores do Clube da Esquina e ganhou espaço na música brasileira entre as décadas de 1970 e 1980. Sendo um dos compositores mais influentes e originais do país, teve músicas suas gravadas por grandes nomes do cenário nacional, como Tom Jobim e Elis Regina.
Além do trabalho no Clube da Esquina, conquistou uma carreira autoral sólida, que já conta com mais de 10 álbuns, e continua na atividade ainda hoje, aos 70 anos, tendo lançado recentemente o seu mais novo disco, Chama Viva.
Que tal relembrar sua voz escutando uma de suas canções mais conhecidas? Clique no Player abaixo e escute novamente “Paisagem da Janela”.
Sempre fui Fã de Lô Fernando Milton e etc minha adolescência foi especial por ter participado e cantando essas músicas que fazem parte de mim. Tenho essas Relíquias de vinil mas hj sou portadora de deficiência auditiva mas minha memória não Morreu, Felizmente portanto gostaria de adquirir esse CD do Lô na época da Pandemia. Como faço?
Muito obrigado por ter escrito acerca da história dessa linda canção. Eu a conheço pela voz da Elba Ramalho e sempre fui hipnotizado por letra bucólica, singela e que me desperta sempre sentimentos de esperança, apesar de uma realidade cruel e angustiante. Grato.
Estou em 2023. E essa música toca na minha alma. Eu não sabia, mas quando estava na barriga da minha mãe, ela cantava pra mim em 1984. Quando coloquei pra escutar hoje ela falou que essa música era minha. E aqui estou estudando o significado. Obrigado por compartilhar!