História da Música O Bêbado e a Equilibrista de Elis Regina

A cantora Elis Regina é uma das principais vozes da música brasileira. Mas, você conhece a história da música O Bêbado e a Equilibrista, um clássico eternizado na voz da cantora? Certamente, você já deve ter ouvido a canção sem ter parado para se questionar o que gerou uma letra e melodia tão memoráveis.

Portanto, quem gosta de descobrir todos os detalhes das suas canções favoritas veio ao lugar certo. A partir de agora, desvendaremos os segredos envolvendo uma das músicas mais favoritas e marcantes do país. Vamos começar?

Música O Bêbado e a Equilibrista

Para início de conversa, é importante destacar que O Bêbado e a Equilibrista é uma obra composta em dupla por dois artistas de enorme prestígio, João Bosco e Aldir Blanc. A voz escolhida para dar vida a música foi Elis Regina, que gravou a música no seu álbum ‘Essa Mulher’, lançado no ano de 1979.

Rapidamente, O Bêbado e a Equilibrista se converteu uma espécie de ‘grito de liberdade’ durante a época da anistia e o final da Ditadura Militar no território nacional, sendo popularmente conhecida como o ‘Hino da Anistia’, apesar de ter sido criada antes da entrada em vigor da Lei da Anistia.

A música O Bêbado e a Equilibrista começou a ser escrita na fase entre as festas de fim de ano de 1977, dado que João Bosco gostaria de prestar uma homenagem ao genial Charles Chaplin, que faleceu em 25 de dezembro (Natal) do mesmo ano.

Por isso, as primeiras linhas da canção retratam o personagem Carlitos, feito por Chaplin: “caía a tarde feito um viaduto. E um bêbado trajando luto me lembrou Carlitos”. Além desse trecho, a música conta com inúmeras menções a acontecimentos e pessoas vinculadas ao período. Isso quer dizer, o governo militar e a anistia cedida para pessoas contrárias ao sistema e aos próprios militares, conforme a Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979.

Outras menções e primeira apresentação da música

Na passagem ‘Choram Marias e Clarisses’, João Bosco fez questão de se referir a filha de Manuel Fiel Filho, Maria, e a mulher do jornalista Vladmir Herzog, Clarisse Herzog. Às duas pessoas citadas na letra morreram durante prisões no DOI-COI, devido ao posicionamento contrário à Ditadura Militar.

Em outra parte de O Bêbado e a Equilibrista, “Brasil que sonha… com a volta do irmão do Henfil”, o trecho tem a ver com Herbert José de Sousa, o Betinho, irmão de Henfil, que precisou se exilar no decorrer da década de 1970. Nesses anos, Betinho vagou entre o Chile, o Canadá e o México.

Já o verso ‘caía a tarde feito um viaduto’ lembra a tragédia da queda do Viaduto Paulo de Frontim na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

Com a letra devidamente concluída, a cantora Elis Regina foi convidada para dar voz a canção. A canção foi apresentada pela primeira vez em uma atração de televisão por Elis Regina, em São Paulo. Com essa performance, ‘O Bêbado e a Equilibrista’ se consagrou como um sucesso praticamente instantâneo e caiu no gosto popular antes mesmo do seu lançamento oficial.

Vale salientar que um dos autores, Aldir Blanc, já falou publicamente que encara a música como um resultado da união e do laço de amizade entre ele, João Bosco, Henfil e Elis Regina.

Sobre Aldir Blanc

Aldir Blanc Mendes nasceu no Rio de Janeiro em 2 de setembro de 1946 e faleceu em 4 de maio de 2020. Ele desistiu da sua carreira na medicina para se transformar em um dos autores mais famosos da história da música nacional. Ao longo de cinco décadas como compositor, ele escreveu mais de 600 músicas.

É importante ressaltar que a sua principal cooperação aconteceu com o João Bosco, ganhando o status de uma das mais brilhantes duplas da MPB. Afinal, ele contabilizou mais de 50 parceiros ao longo de sua trajetória e escreveu O Mestre-sala dos Mares”, “Dois pra Lá, Dois pra Cá”, “O Ronco da Cuíca”, “Transversal do Tempo”, e muito mais.

Blanc ganhou muita notoriedade com seus textos publicados nos principais veículos de imprensa do país. Posteriormente, boa parte desse material foi relançado como obras literárias, fazendo diversas referências ao Vasco da Gama.

No entanto, ele ficou cada vez mais recluso em um imóvel no Rio de Janeiro depois de um sério acidente sofrido em 1991, que restringiu sua mobilidade. No ano de 2020, ele foi hospitalizado já em estado grave e faleceu devido às complicações da COVID-19. A sua partida foi lamentada por milhares de brasileiros fãs de seu trabalho e personalidade do universo artístico.

João Bosco

O cantor e compositor João Bosco nasceu em 13 de julho de 1946, em Minas Gerais. O seu primeiro contato com a música ocorreu já aos 12 anos, quando passou a tocar violão por estímulo de seus familiares. As principais referências musicais nesse período foram Ângela Maria, Cauby Peixoto, Elvis Presley e Little Richard.

Anos depois, ele entrou na Escola de Minas Gerais em Ouro Preto com a intenção de se tornar engenheiro civil. Ainda que não abandonasse os estudos, João Bosco tinha muito mais talento para as artes e se destacava, especialmente, em estilos como bossa nova e o tropicalismo. Em 1967, ele efetuou amizade com Vinícius de Moraes, com quem escreveu vários sucessos.

Porém, ele conheceu aquele que viraria o seu grande parceiro musical três anos depois. Ao lado de Aldir Blanc, João Bosco compôs músicas inesquecíveis e tocadas até hoje no Brasil e no exterior. A sua primeira gravação fez parte de um disco do jornal O Pasquim, em 1972. No ano seguinte, ele assinou um acordo com uma gravadora e lançou seu primeiro álbum.

Em 1972, o seu caminho se cruzou com Elis Regina, que gravou uma música sua em parceria com Blanc. E, João Bosco conquistou ainda mais relevância no cenário musical brasileiro depois da participação de Elis no bolero Dois pra lá, Dois pra cá.