Aldir Blanc Inédito une Chico Buarque, Maria Bethânia e João Bosco
O álbum Aldir Blanc Inédito já está disponível, desde esta sexta-feira (24), em todas as plataformas de áudio digitais. O projeto, que recebeu a curadoria da viúva do compositor, Mary Lúcia de Sá Freire, conta com 12 canções inéditas, compostas por um dos maiores letristas da nossa Música Popular Brasileira.
O álbum Aldir Blanc Inédito faz um passeio por grandes nomes da MPB e que foram parceiros de Aldir, ao longo de vários e vários anos, indo desde João Bosco, com quem compôs diversos clássicos, passando por Guinga, Moacyr Luz e Cristóvão Bastos, e chega a Alexandre Nero, último parceiro de Aldir.
Aldir Blanc Inédito, além dos grandes compositores parceiros de Blanc, conta com interpretações de ícones da nossa música, tais como Chico Buarque, Maria Bethânia, Moacyr Luz e, é claro, o seu grande parceiro de composição, João Bosco.
Confira todos os detalhes do álbum Aldir Blanc Inédito, a seguir, com o Versos e Prosas.
Grandes parceiros de Aldir Blanc compõem o disco
O álbum Aldir Blanc Inédito já está disponível em todas as plataformas de streaming desde esta sexta-feira (24). Já se tornou um clichê dizer que Dorival Caymmi chamava Aldir Blanc de “Ourives do Palavreado”. Mas é impossível não lembrar da declaração ao imaginar quantas pepitas de ouro o prolífico compositor carioca deixou guardadas, à espera de quem pudesse lapidá-las.
Algumas dessas joias vêm à tona agora, no álbum Aldir Blanc Inédito, gravado na Biscoito Fino, no Rio, em que grandes nomes da música brasileira, amigos e admiradores de Aldir interpretam 12 canções inéditas. Confira outros lançamentos conosco.
Com arranjos de Cristóvão Bastos e produção musical de Jorge Helder, o projeto gravado de julho a agosto deste ano, seguindo todos os protocolos necessários, estabelece uma transversal do tempo dos parceiros de Aldir. Vai de João Bosco (com quem fez diversos clássicos desde que se conheceram, na virada para 1970), passa por Guinga, Moacyr Luz e Cristóvão Bastos, e chega a Alexandre Nero, último parceiro de Aldir.
Como surgiu a ideia do projeto Aldir Blanc Inédito?
A ideia do álbum surgiu quando Mary Lúcia de Sá Freire, viúva do compositor morto em maio de 2020, vítima de complicações da Covid-19, voltou de uma viagem ao sul do País, no início deste ano.
Determinada a rever sua nova jornada e honrar a memória de Aldir, Mary reuniu manuscritos, letras e poesias inéditas, material que chegou até a gravadora carioca pelas mãos da cantora e compositora Ana de Hollanda e de Sônia Lobo, administradora da Nossa Música, braço editorial da Biscoito Fino.
Aldir Blanc Inédito tomou forma a partir da contribuição de parceiros e amigos de Aldir Blanc: algumas músicas já estavam finalizadas, outras ganhariam melodias neste ano. O projeto foi gravado em tempo de celebrar os 75 anos do compositor e cronista, nascido em 2 de setembro de 1946.
Parceria histórica com João Bosco não poderia ficar de fora
Aldir Blanc Inédito, que tem capa do designer gráfico e ilustrador Elifas Andreato, abre com João Bosco interpretando um daqueles típicos sambas da parceria Bosco/Blanc, que retratam o clima da boemia carioca. A música foi feita para uma campanha publicitária de cerveja por volta de 2013/2014, mas não foi aproveitada. João juntou várias ideias de Aldir e fez uma segunda parte. Ao completar a canção, batizou-a de “Agora eu Sou Diretoria”. Para João, agora que está lá em cima, Aldir é diretoria.
Moacyr Luz, outro parceiro de Aldir, assina três músicas do álbum. Em 2017, Aldir fez a letra existencial e espiritualista de “Palácio de Lágrimas” pensando na voz de Maria Bethânia, que já incluíra canções da dupla em seus discos. “Moa, você quer encarar?”, perguntou ao amigo naquele ano, por e-mail. Moacyr encarou e é de Maria Bethânia o registro da música no novo projeto. Acompanhada pelo violão de 7 cordas de João Camarero e pela viola caipira de Paulo Dáfilin, Bethânia dá a interpretação exata às palavras de Aldir.
Moacyr ainda participa como intérprete do samba-canção “Mulher Lunar”, parceria com Luiz Carlos da Vila e Aldir. Entre as que nunca tiveram registro oficial, essa era uma das favoritas do letrista, que se perguntava quem iria gravá-la um dia. “Acalento”, cujo título é uma homenagem a Dorival e Nana Caymmi, faz alusão a “Acalanto”, clássico do compositor baiano, e ganhou melodia de Moacyr e João, a quem a letra havia sido entregue inicialmente, resultando no bolero interpretado por Ana de Hollanda.
Aldir Blanc Inédito tem músicas inspiradas em cidade fluminense
Os encantos da cidade de Armação de Búzios (RJ), inspiraram Aldir em vários poemas e letras criados em suas passagens por lá. No verão de 1993 escreveu “Provavelmente em Búzios”, gravada agora como samba canção por Dori Caymmi. A música é de Cristóvão Bastos, com quem Aldir fez “Resposta ao Tempo”, maior sucesso popular de, veja só, Nana Caymmi. Diz o trecho final, “Contra o mundo, contra o tempo/tenho a música e o verso/cada história que acabar/viro a folha e recomeço”.
Na inspiradora cidade fluminense, Aldir criou também, para melodia de Guinga, “Catavento e Girassol”, que deu nome ao antológico disco de Leila Pinheiro (de 1996), com repertório composto pelos dois. Uma fita cassete preservada no acervo da cantora há mais de 25 anos guardava “Navio Negreiro”, que não entrou naquele álbum. Em Aldir Blanc Inédito, Leila se junta a Guinga na interpretação da música que retrata a história de um negro escravizado, repleta de referências culturais e que reforça a ainda hoje tão necessária luta contra o racismo.
Chico Buarque também participa do projeto
A relação afetuosa de Chico Buarque com Aldir começou nos anos 70. Anos mais tarde, participou do álbum Simples e Absurdo (1991), primeiro compilado das canções de Guinga e Aldir.
Ao saber do projeto de inéditas do letrista, Aldir Blanc Inédito, Chico escolheu “Voo Cego”, um soneto com o eu-lírico feminino musicado por Leandro Braga. Chico Buarque de Hollanda, um dos compositores brasileiros que melhor entendeu os sentimentos das mulheres, era mesmo a pessoa ideal para interpretá-la.
Aldir Blanc Inédito e a volta à época dos festivais
Duas grandes compositoras brasileiras da geração dos festivais também participam do álbum. Em conversa com Mary, Sueli Costa lembrou-se de” Ator de Pantomima”, de 1978, única das cinco músicas compostas com Aldir jamais registrada em disco. Coube a ela interpretar a canção repleta de metáforas que aludem aos suplícios dos porões da ditadura militar. “A farsa perante a corte/Não disfarça o meu calvário/Muito ao contrário, o realça/Ridiculariza a morte em cada ato/Que o rei real realiza”.
Joyce Moreno e Aldir, apesar de terem convivido por décadas em batalhas como a luta por direitos autorais mais justos, nunca foram parceiros. Durante a preparação de Aldir Blanc Inédito, Joyce musicou uma poesia de Aldir, publicada em 1986 no jornal Tribuna da Imprensa. Daí nasceu “Aqui, Daqui”, uma exaltação ao poder do feminino que dialoga com uma parte importante da obra de Joyce.
Uma das cantoras do coração de Aldir, que gravou um disco dedicado às parcerias dele e de Cristóvão Bastos, Clarisse Grova interpreta “Outro Último Desejo”, de 2012. O letrista parte do conceito de “Último Desejo”, clássico de Noel Rosa. Mas se o Poeta da Vila pedia à pessoa amada para elogiá-lo às pessoas amigas e rebaixá-lo a quem o detestava, Aldir segue o caminho oposto. “Aos canalhas que eu odeio/ Diga que fui seu esteio/ Que pensa em voltar pra mim (…)/ Mas se a figura me preza/ Pragueje e diga que reza/ Pro meu fim ser de indigente”. De forma sagaz, Clarisse recorre a passagens melódicas daquele tema.
Obra de Aldir Blanc será eterna
Nos últimos anos de vida, Aldir engatou uma parceria com Moyseis Marques. O “Baião da Muda”, que Moyseis gravou em Aldir Blanc Inédito, foi feito pelos dois com Nei Lopes e representa a pluralidade de ritmos com a qual o letrista trabalhou ao longo da carreira. O álbum termina com “Virulência”, composta a partir de um mosaico de ideias que Aldir compartilhava com Alexandre Nero, que pretendia montar um espetáculo teatral com obras do compositor carioca. A letra retrata as mazelas dos nossos tempos, que tanto afligiam o compositor: “Que falta me faz meus pais/Que falta nos faz a paz/Que falta nos faz um país”. A canção ganhou ainda um terceiro parceiro, o músico Antônio Saraiva.
Aldir Blanc Inédito é a prova de que a poesia de Aldir permanecerá reverberando. Como o próprio já dizia, em parceria com João Bosco em O Bêbado e a Equilibrista (1979), brilhantemente interpretada por Elis Regina: “A esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar”!
Repertório e intérpretes
1 – Agora eu Sou Diretoria (João Bosco e Aldir Blanc) – João Bosco
2 – Palácio de Lágrimas (Moacyr Luz e Aldir Blanc) – Maria Bethânia
3 – Baião da Muda (Moyseis Marques, Nei Lopes e Aldir Blanc) – Moyseis Marques
4 – Voo Cego (Leandro Braga e Aldir Blanc) – Chico Buarque
5 – Navio Negreiro (Guinga e Aldir Blanc)- Leila Pinheiro / Guinga
6 – Provavelmente em Búzios (Cristóvão Bastos e Aldir Blanc)- Dori Caymmi
7 – Acalento (João Bosco, Moacyr Luz e Aldir Blanc)– Ana de Hollanda
8 – Aqui, Daqui (Joyce/Aldir Blanc) – Joyce Moreno
9 – Mulher Lunar (Luiz Carlos da Vila, Moacyr Luz e Aldir Blanc) – Moacyr Luz
10 – Outro Último Desejo (Clarisse Grova e Aldir Blanc) – Clarisse Grova
11 – Ator de Pantomima (Sueli Costa e Aldir Blanc) – Sueli Costa
12 – Virulência (Alexandre Nero, Antônio Saraiva e Aldir Blanc) – Alexandre Nero
Para ouvir o álbum “Aldir Blanc Inédito”, que reúne grandes personalidades da nossa Música Popular Brasileira, em homenagem a este letrista genial, escolha sua plataforma de áudio e admire cada letra do, já dito por Dorival Caymmi, “Ourives do Palavreado”!