Gênesis: o samba orquestrado de João Bosco

Em um concerto realizado no Sesc Palladium, em Belo Horizonte, na noite do último sábado (7), a Orquestra Ouro Preto e o cantor e compositor João Bosco apresentaram o álbum Gênesis, gravado na mesma casa em setembro passado.

O álbum, que está disponível nas plataformas digitais desde o dia 6, conta com 15 sucessos de João Bosco, famosos na sua voz e também de outros artistas, como Elis Regina e Milton Nascimento.

O show já seria marcante por si só, carregando tanta poesia de João Bosco, mas as manifestações políticas e ambientais roubaram a cena por algumas vezes durante o espetáculo.

O começo da noite já me deixou emocionada, quando o maestro Rodrigo Toffolo fala da realização que é participar de todo esse trabalho ao lado de João Bosco.  Toffolo fala que aprendeu a admirar João Bosco e toda a sua obra.

O maestro agradece a todos que acreditaram no projeto e também faz um agradecimento especial a Gerdau, que é patrocinadora do lançamento do álbum e do evento.

Rodrigo Toffolo dedicou o concerto a todas as mães presentes e em especial a sua mãe e a esposa de João Bosco, já que o show aconteceu no sábado que antecedeu o dia das mães.

Chegou, mudou de estação e João Bosco começou a cantar!

Incompatibilidade de Gênios foi a primeira música do espetáculo e também do álbum.

A junção de todos aqueles instrumentos e o tom e o som de João Bosco me fez fechar os olhos e mergulhar na harmonia entre o clássico e a poesia.

Esse momento me deu vontade de dançar, seja no teatro ou nas águas de Guanabara, O Mestre Sala dos Mares me empolgou e o ritmo me incentivou a discretamente movimentar os braços e me sentir flutuando, como se ali mesmo eu já estivesse dançando e muito.

O espetáculo é sim maravilhoso, é coisa rara de ver!

Na sequência, João Bosco e Orquestra Ouro Preto nos apresentou a música Jade. O romantismo da versatilidade de João Bosco com o clássico da Orquestra embalou o coração de todo mundo ali naquela noite.

O amor por concertos me pegou, me pegou pra valer!

Quando o Amor Acontece foi outra música que me fez flutuar, fechei os olhos e mergulhei naquela sonoridade toda, a Orquestra completa a poesia de João Bosco ou João Bosco completa a melodia da Orquestra Ouro Preto.

Sinhá carrega tanta história, tudo aquilo que os escravos passaram, a Orquestra Ouro Preto acertou no tom melancólico para a melodia, ali a música carregava emoção no verso e na canção.

Mais uma vez a sala cala para ouvir Vala Com Bala. Com um arranjo de mistério, a música começa depois se encaixa perfeitamente ao samba verdadeiro de João Bosco, sem nenhuma imperfeição.

Perfeição me emociona, a música já começa falando de Copacabana, Já fechei os olhos de novo e ali me imaginava andando pelas areias mais famosas do mundo. A música se tornou para mim uma clara beleza rara, ficou incrível.

Mesmo que eu mande em garrafas, mensagens por todo o mar. Eu não vou conseguir descrever o sentimento desse show. Foi assim também com a música Corsário, muito conhecida na voz de Milton Nascimento, que foi composta por João Bosco. Esta foi mais uma vez que eu viajei no som da sua voz, o seu canto encanta quando encontra o som da Orquestra.

O Rancho da Goiabada traz uma boa reflexão, fala do passado, sem perder o pé no presente, afinal até hoje muita gente sonha com o melhor para comer. Fechei meus olhos e ouvir toda a música em forma de prece por um mundo melhor, com melhores condições.

E foi esse o momento do protesto ambiental, a gente sabe que a empresa Tamisa está tentando explorar minério na região da Serra do Curral, que ocupa a capital mineira e parte da região metropolitana, alguns ali presentes inconformados com a situação gritaram: “fora Tamisa”.

E esta manifestação ambiental ocorreu instantes antes da música De Frente Pro Crime, se foi coincidência?! Não sei! O povo brasileiro se sente ameaçado com relação ao ambiente, a economia, a política, a segurança. Então são nesses momentos que o povo usa a arte como apelo.

Memória da Pele traz uma poesia de lembranças e esquecimentos, uma melodia suave. E veio na hora certa para reafirmar que eu e todo mundo que ali estava, não vamos esquecer esse momento.

O Ronco da Cuíca traz poesia, que fala de fome e traz verdade.

A Orquestra levou o samba de maneira natural que se encaixou por completo a letra de João Bosco.

Kid Cavaquinho é uma das músicas de João Bosco que eu mais gosto, foi nesse momento que eu senti vontade de balançar o esqueleto de novo, discretamente batucando em minha própria perna, eu cantei e reverenciei o samba brasileiro!

O Bêbado e a Equilibrista é sem dúvidas uma música histórica, conhecida como o hino da anistia no Brasil, e com muito sucesso na voz de Elis Regina, a composição de João Bosco e Aldir Blanc trata de fatos reais  como a queda de um viaduto no Rio de Janeiro e o sofrimento de pessoas perseguidas pela ditadura militar no Brasil.

A música inflamou o público ali presente e enquanto eu viajava na letra, na melodia, na composição, o povo me despertou aos gritos de: “Olê, olê, olá, Lula, Lula!”

Papel Machê chegou para acalmar o público e finalizar o álbum. Mostrando que a gente estava ali para festejar e comemorar a música, a poesia de João Bosco e a melodia da Orquestra Ouro Preto, nós cantamos todos juntos com aplausos e pedidos demais uma música.

E foi assim que João Bosco cantou mais uma vez a brilhante poesia de Corsário e arrancou do público ainda mais aplausos.

Eu falo por mim e por todos, Obrigada pela oportunidade desse espetáculo!

Marcos Aurélio

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